Projeto ‘A Cidade das Crianças’ completa um ano no município
OSÓRIO – No último dia 09 de maio, o coordenador do projeto ‘A Cidade das Crianças’, Alencar Massulo, esteve no Campus do Instituto Federal do RS (IFRS). Na ocasião, o arquiteto e urbanista se reuniu com professores, servidores e estudantes para uma atividade de formação. Durante a conversa, Alencar aproveitou para apresentar um panorama do primeiro ano Projeto.
A política “A Cidade das Crianças” (do italiano, La Città dei Bambini) foi idealizada pelo pedagogo Francesco Tonucci em Fano (Itália), com o intuito de colocar a criança como paradigma para o desenvolvimento da cidade. Hoje está presente em cerca de 200 cidades da Europa e da América Latina, reunidas tanto na Rede Internacional ‘A Cidade das Crianças’, quanto nas redes locais, caso da Rede Latinoamericana ‘La Ciudad de los Niños”.
ADESÃO DO MUNICÍPIO
Em setembro de 2022, o prefeito Roger Caputi assinou o Decreto Municipal 160/2022, o qual autoriza a adesão do município ao Cidade das Crianças. No mesmo dia, também foi assinada foi assinada a Ficha de Adesão ao Programa. De acordo com o Decreto, o objetivo é incentivar a participação das crianças nos processos de discussão sobre ações para o município que resultem em melhor qualidade de vida para toda população osoriense.
A partir daí, o Executivo passaria a ouvir as ideias dos pequenos, mediante a criação do Comitê das Crianças de Osório (CCO), que seria uma instância consultiva a respeito das políticas públicas da cidade, trabalhando junto com o Conselho de Plano Diretor de Desenvolvimento Municipal (CPDDM). Já previsto no Plano Diretor Estratégico, o Comitê encontra-se em processo de formação e estará articulado com comitês locais, formados nas escolas. Desses comitês nas escolas serão sorteadas duas crianças para participarem do Comitê da cidade.
Após a participação do Município no Encontro Brasileiro de Cidades da Criança, realizado em março do ano passado, na cidade de Jundiaí (SP), em 17 de maio de 2023 foi lançado oficialmente o Projeto em Osório, sendo a Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Osmany Martins Véras a primeira a receber as atividades.
LOGOMARCA
Em agosto de 2023, foi apresentada a logomarca do Projeto, passando a ser utilizada em todas as iniciativas relacionadas ao assunto. Segundo o coordenador do projeto, para que as iniciativas tenham a identidade de Osório, foi criada uma logomarca específica, inspirada nos desenhos que as crianças fizeram nas oficinas da revisão do Plano Diretor, e que retrata os conceitos principais que representam o propósito.
De acordo com Massulo, “a criança brincando é a principal mensagem que se quer passar a partir do desenho – e este é o foco de todas as ações envolvidas”, explicou. A imagem traz ainda algumas características bem particulares e que são importantes como símbolos desta responsabilidade com o coletivo. Veja a seguir o significado de cada símbolo e escrita da logomarca do Projeto.
DESENHO À MÃO – A criança se expressa com seus desenhos que, no começo, são garatujas – os rabiscos – e vão se transformando com o passar dos anos. Nas oficinas que foram trabalhados com os pequenos, são os desenhos que mostram o universo genuíno que elas trazem consigo, e ali estão mensagens e posicionamentos que transformamos em informação, diagnóstico da cidade, pedidos sinceros que devem ser levados a sério pelos adultos – em especial, os adultos que fazem a gestão da cidade.
ESCRITA À MÃO – Para criar a logomarca, não foi utilizado nenhuma das fontes (tipos de letras) trazidas pelos programas digitais, mas, sim, a escrita à mão para que seja valorizada a espontaneidade, a agilidade e a identidade dos que trabalham com a infância.
SILHUETA – A criança que corre com a pipa representa algo muito além de uma brincadeira. Ao não ter rosto nem idade, faz referência a todas as pessoas que, de alguma forma, não se acomodam, que brincam, que interagem com alegria, que se movem para realizar os objetivos, que acreditam que, mesmo com tantas limitações, podem voar.
PIPA – É o brinquedo artesanal, acessível para qualquer realidade social, que preenche o céu a partir do nosso vento tão característico, que não deixa esquecer que fomos feitos para sermos livres.
CORES
Azul Claro – Referência à água, item essencial para a vida e tão presente na nossa geografia.
Verde – Lembra dos morros, dos campos, e faz conjunto com a água para formar a planície litorânea. A criança traz muito presente as questões ambientais nas suas opiniões e posturas, e o contato com a natureza é retratado na nossa logomarca.
Vermelho, laranja e amarelo – Essas três cores agrupadas representam as cores do céu no nascer e no pôr-do-sol, simbolizando a passagem do tempo, e o espaço do dia inteiro que a criança deve dispor para brincar.
Rosa, azul ciano e azul roial – Conjunto de cores que se referem à inclusão – de gênero, de raça/etnia, traz presente a neurodivergência, as pessoas com deficiência e a acessibilidade como um todo. A universalização da cidade é algo que as crianças nos ensinam a todo o tempo, porque o pensamento delas é inclusivo, quer compartilhar, não deixar ninguém de fora.
Marrom – Significa o chão, o território. É onde a criança pisa, onde ela vive, o espaço que ocupa e onde se insere. É a base e o apoio que a comunidade deve ser para que a criança seja autônoma e livre.
Laranja – Essa cor aparece novamente, agora na palavra “Crianças”, para lembrar da criatividade infantil que não deve ser apagada pela ação dos adultos. A inovação, a iniciativa, as formas genuínas e diversas de pensar e de fazer devem ser estimuladas para que a criança se desenvolva com a segurança de que não há limites para o pensamento e as realizações da vida.
ATIVIDADES REALIZADAS
Um dos princípios do Programa Cidade das Crianças refere-se ao direito de a criança ter autonomia para transitar pela cidade. Nessa perspectiva, uma das ações em desenvolvimento no município denomina-se ‘Para a escola vamos juntos’. A ideia é potencializar a autonomia e segurança da criança no percurso casa-escola-casa, começando com a delimitação de trajetos prioritários. Nesses trajetos são estabelecidos pontos de encontro para as crianças se reunirem e seguirem o percurso juntas.
A partir desses estudos iniciais, realizados com participação ativa das crianças em oficinas e saídas de campo pelo entorno da escola, foram mapeadas as necessárias intervenções urbanísticas, incluindo a sinalização de trânsito e a melhoria dos espaços por onde transitam pedestres. Ainda está sendo proposto que, nesses trajetos, os carros não ultrapassem a velocidade de 30 quilômetros por hora (km/h). Essa mudança será possível já que o Conselho Municipal de Trânsito também se tornou parceiro da política. Em cidades como Pontevedra, na Espanha, o centro urbano da cidade é limitado a 30 km/h, e o número de mortes em acidentes de trânsito foi zerado.
INSTITUTO FEDERAL
Desde 2022, o Campus Osório tem sido parceiro da proposta, por meio da Incubadora de Redes, Empreendimentos Solidários e Inovações no Serviço Público. Neste ano, está sendo encaminhado um termo de cooperação entre o Campus e a prefeitura. Além disso, há um projeto de pesquisa e um projeto de extensão em andamento que dialogam diretamente com a Política.