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ICMBio aprova turismo com barcos na Ilha dos Lobos

O Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) aprovou um plano de uso público para a Ilha dos Lobos, em Torres. Serão realizados passeios de barco em torno da ilha, permitindo a observação de lobos-marinhos e leões-marinhos. Além disso, também será liberada a circulação com caiaque e stand up paddle. A iniciativa deve começar a funcionar ainda no primeiro semestre deste ano.

A aprovação do ICMBio levou em conta pesquisas do projeto Torres para o Mar, que não apontaram impactos aos lobos e leões-marinhos com a aproximação dos barcos. Embora os resultados finais dessas pesquisas ainda não tenham sido apresentados, o ICMBio decidiu que os barcos podem voltar a cruzar o limite de 500 metros e ficar mais perto da ilha. O instituto ainda vai definir a nova distância a ser respeitada e o número de passeios diários. Já os desembarques de pessoas na ilha para fins turísticos seguirão vetados.

É válido relembrar que, até 2018, embarcações podiam se aproximar da ilha para que turistas observassem os animais. Entretanto, no mesmo ano, o ICMBio passou a vetar esse tipo de passeio, estabelecendo uma proteção de 500 metros ao redor das rochas. Segundo o biólogo Juliano Rodrigues Oliveira, atual chefe do Revis da Ilha dos Lobos, a decisão foi tomada para preservar a fauna até que o instituto elaborasse um plano de manejo e um plano de uso público para avaliar os impactos do turismo nos animais. O plano de manejo foi aprovado em 2023, sendo o plano de uso público finalizado em dezembro de 2024.

“Entendemos que atividades públicas trazem mais apoio à conservação da ilha. As pessoas vão defender mais a unidade de conservação quando puderem conhecê-la. Além do mais, essas atividades vão gerar renda, desenvolvendo o ecoturismo. E isso também é uma função do meio ambiente. As pessoas têm direito ao meio ambiente, isso está na Constituição. O ICMBio tem clareza de que, havendo preservação, temos o dever de dar esse retorno para a sociedade”, afirmou Juliano.

O ICMBio estima que regular as práticas aquáticas ao redor da Ilha dos Lobos vai coibir atividades ilegais. Mesmo proibida, a pesca, por exemplo, ainda acontece na área. “Nós mesmos faremos a fiscalização, embora a gente entenda que, com a regulação das atividades, os próprios usuários serão fiscais. Se um barco chegar mais perto da ilha do que o permitido, acreditamos que o turista vai reclamar. Confiamos que regulamentar atividades faz com que as ilegais diminuam. É uma experiência que o ICMBio tem no Brasil inteiro”, disse o biólogo.

Juliano Rodrigues Oliveira, atual chefe do Revis da Ilha dos Lobos.
Juliano Rodrigues Oliveira, atual chefe do Revis da Ilha dos Lobos.

Já para a coordenadora do Torres para o Mar, a bióloga Larissa Rosa de Oliveira, integrante do Grupo de Estudos de Mamíferos Aquáticos do Rio Grande do Sul (Gemars) e coordenadora do Programa de Pós-Graduação em Biologia da Unisinos, acredita que é possível estimular o turismo em áreas de conservação ambiental, desde que a interação entre seres humanos e meio ambiente seja feita de forma regrada. “A população de Torres precisa saber que tem um patrimônio ambiental fantástico, e que esse patrimônio não vai desaparecer se o turismo for feito da forma correta e sustentável, com atividades não-predatórias. Há lugares no mundo inteiro que fazem turismo de observação preservando os animais. Todo mundo vai para a Península Valdés (Patagônia argentina) ver as baleias, os leões-marinhos e as orcas. Foi uma região que se tornou um polo turístico fantástico porque fizeram direito. Enquanto nós, aqui no Brasil, ficamos batendo cabeça”, avalia a especialista.

Coordenadora do Torres para o Mar, Larissa Rosa de Oliveira.
Coordenadora do Torres para o Mar, Larissa Rosa de Oliveira.

A ILHA

Situada a 1,8 quilômetro da costa de Torres, a Ilha dos Lobos é uma área de rochas basálticas que anualmente recebe lobos-marinhos-sul-americanos (Arctocephalus australis) e leões-marinhos-do-sul (Otaria flavescens), além de diferentes espécies de aves.

No começo do inverno no Hemisfério Sul, lobos e leões-marinhos que vivem em colônias de reprodução na Argentina e no Uruguai abandonam esses lugares em busca de águas mais quentes. Na Ilha dos Lobos, eles encontram alimento e descanso. Essa porção de rochas é considerada o ponto mais ao norte da costa Atlântica onde esses pinípedes se concentram. A maioria dos animais é macho adulto, mas há registros esporádicos de fêmeas.

A ilha é protegida como reserva ecológica desde 1983, tendo sido transformada em Refúgio de Vida Silvestre (Revis) da Ilha dos Lobos, em 2005 – quando os limites de proteção foram ampliados para a água, em um raio de 500 metros ao redor das pedras. Desde 2007, a área é gerida pelo ICMBio, autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente.

CRÉDITO FOTO 1: Natália Procksch
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