Botos ajudam pescadores na captura de peixes em Tramandaí
Quando o tempo ajuda, um fenômeno incrível ocorre no Litoral Norte do Rio Grande do Sul. É uma parceria entre homens e botos na hora da pesca, algo que acontece em poucos lugares do mundo (veja na reportagem).
É na Barra de Tramandaí, na divisa com Imbé que, ainda antes do amanhecer, os primeiros pescadores começam a se reunir. Em seguida, eles ganham companhia.
Mas os botos que aparecem nas águas não estão se exibindo. Eles estão ali para comer e também para ajudar os pescadores. É a pesca colaborativa.
“Ele salta, ele dá uma arrancada mais forte. De várias maneiras ele mostra o peixe pra nós”, diz o pescador Francelino Antonio dos Santos Neto.
É o boto quem cerca as tainhas, as aproxima do canal e indica o cardume aos pescadores. O sinal tão esperado é quando o mamífero tira a cabeça pra fora da água. É o alerta de que a tainha está a caminho e é hora de jogar as tarrafas, que são lançadas simultaneamente, cobrindo o espaço entre os botos e os pescadores.
Não se sabe ao certo quando essa cooperação homem-boto começou nesta região. “Faz 47 anos”, diz o pescador Nilton Gonçalves Izidoro, sobre a prática. Mas a tradição também é foco de pesquisa, como ocorre no Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
Todos os dias, pesquisadores fotografam os botos. Dezesseis já foram identificados a partir das marcas nas nadadeiras. O Projeto Botos da Barra trabalha pela conservação dos mamíferos e em prol da pesca cooperativa com pescadores artesanais de tarrafa.
Em uma das aparições, quem resolveu aparecer foi a Rubinha, que está ensinando os movimentos de pesca ao filhote Rubinho. Os nomes dos botos são dados pelos próprios pescadores. Alguns são famosos, como a Geraldona, uma fêmea de 30 anos. “Ela traz o peixe pra nós. Quando ela vem, é tainha certa”, comenta um dos pescadores.
“Eu moro na beira do rio e o boto ia lá em casa, me levava o peixe. Sempre foi assim. Ele vinha aqui e levava o peixe até a minha casa, na beira do rio. Foi assim até o ano de 2005, quando o Lobisomem morreu. Era o nome do boto”, lembra outro.
Os pescadores que aderem ao projeto ganham o título de Amigo do Boto, e além de trabalhar em harmonia com o meio ambiente, também ajudam a garantir a sobrevivência deles.
Aliás, saber de onde vem o peixe é uma boa forma de evitar a pesca predatória. O projeto também busca esclarecer moradores e veranistas. Um dos avanços foi a proibição de lanchas e jet skis no canal, que assustam e podem machucar os botos.