EDITORIAL

Uma enchente de solidariedade

O nosso estado vive um dos seus maiores desastres ecológicos de sua existência, superando as adversidades de 1941, considerada como um marco histórico de uma tragédia natural. O clima adverso dos últimos prenunciava dias piores, os efeitos das fortes chuvas e seu escoamento das bacias hidrográficas gaúchas eram conhecidos algo que nos tempos da educação de conhecimento era levada aos alunos. Nossa geografia era estudada e se tinha a importância dos seus recursos hídricos e por estes o estado se tornou um dos maiores produtores agrícolas do país. O maior produtor nacional de arroz irrigado devido aos seus abundantes mananciais. Uma riqueza hídrica que tornou nosso estado numa potência agrícola e na pecuária. Era tudo visto pelo seu lado positivo de produzir riqueza e abundância de alimentos. Isto fez com que por mais de 60 anos nunca se considerasse a possibilidade desta riqueza ser o que poderia causar tamanha desgraça em tão pouco tempo ao destemido povo gaúcho.

Desde o ano passado nossos rios sinalizaram que poderiam causar tristeza e enormes perdas, depois de tantos anos gerando fartura e segurança hídrica em diversos setores. Desde o consumo humano até a geração de energia e alimentos. Desconsiderou-se que a cada cheia dos rios seus canais eram assoreados com deslizamentos e destruição de moradias ribeirinhas e pontes. Foram décadas a fio de acúmulo de dejetos das margens, por ação das chuvas, no leito dos rios e um dia seria isto que cobraria das nossas autoridades a falta de cuidado com estes mananciais. O retrato desta destruição agora ocorrida é o resultado de da falta de ação governamental para com o todo e também das municipalidades que permitiram a ocupação do solo às margens de rios e de áreas que historicamente vinham sendo alagadas e que seriam áreas de risco. Algo que agora o Estado e prefeituras devem se debruçar para minimizar estes efeitos e eventos futuros.

O desastre por que passa o Rio Grande neste momento despertou na nação e da força de seus cidadãos uma enchente de solidariedade que salvou a vida de centenas de pessoas. Enquanto o governo assistia atônito os acontecimentos, as pessoas de outras regiões não afetadas e, principalmente do nosso litoral, e os irmãos catarinenses se deslocavam com o que podiam para poder ajudar a salvar vidas, resgatar pessoas e animais em meio ao caos deixando família e o conforto de seus lares para se dedicarem de corpo e alma para atender ao chamado de socorro. Desencadeou pelas mídias sociais um corrente forte de solidariedade e empresários e pessoas simples do nosso rincão aportavam na região metropolitana e em outras do nosso estado para prestarem seus serviços voluntariamente, sem comando, sem ordenamento, sem burocracia, mas simplesmente pelo espírito de humanidade em buscar salvar pessoas que estavam à deriva do estado.

Dezenas, talvez centenas de jet-skis, lanchas, barcos a remo, canoas, coletes infláveis ou o que pudessem de sua vivência levarem para cumprirem uma missão de vida ou morte. Em todos os voluntários que se dedicaram ao resgate de pessoas o foco estava em conseguir retirar o máximo de pessoas da situação de risco, mesmo que isto significasse colocar em risco sua própria vida, mas que felizmente mostraram que mesmo sem treinamento realizaram o impossível e saíram com dignidade e orgulho de terem salvado vidas.

Passado o pior chega à turba do passa-pano, do não pagador de promessas para comandar e brilhar diante dos holofotes e ainda burocratizar o socorro e a ajuda de voluntários e doadores. O manto da irresponsabilidade baixou sore o Rio Grande e buscou a calar as vozes das redes sociais com a conversa mole de fakenews, pois não gostam de ver revelada a inoperância e a incompetência do estado num momento de desespero do povo gaúcho. Chegou-se o ponto de se apelar para a Justiça e a PF para punir quem estava colaborando jogando-os no inquérito do fim do mundo como se o povo não tivesse o direito de reclamar e expor a mazela de um governo que veio para massacrar a nação que passou a ser governada por um ladrão revanchista que se utiliza da própria justiça que o condenou e que ao longo de anos aparelhou.

Aos milhões de doadores, de voluntários vindos de todos os estados, de policiais civis, da nosso Corpo de Bombeiros gaúcho, dos irmãos catarinenses, de influencers que se uniram em nome da solidariedade e puderam minimizar o sofrimento do nobre povo gaúcho uma eterna gratidão. Que permitirão que muitos tenham condições de abraçar sua mãe que salvaram das águas e de seus filhos que poderão lhe abraçar neste domingo dedicado ao dia das Mães.

Esta enchente de solidariedade para sempre será lembrada e que por certo por muito tempo ainda terá de ser continuada até que o povo gaúcho se erga e reconquiste seu lugar diante desta grande nação.