A partir de 1º de janeiro de 2016, passa a valer oficialmente as regras do novo acordo ortográfico. Isso significa que não será mais aceito escrever a palavra “ideia” com acento ou micro-ondas sem hífen.
As regras estão em uso desde 2009, mas foi necessário um período de seis anos de adaptação. A partir do ano que vem, livros, concursos públicos e até o Enem irão seguir obrigatoriamente a nova ortografia.
O problema é que as regras ainda causam dúvidas e são motivos de questionamentos por linguistas, políticos e até juristas. A Ordem dos Advogados do Brasil criou uma comissão para cobrar mudanças no acordo. O assunto é discutido até no senado federal.
Segundo o professor de português Carlos André Nunes, representante da OAB no grupo do Senado, a ideia é propor mudanças para deixar as regras mais claras. Ele pondera que não é contra o acordo, mas que é preciso fazer mudanças.
“O acordo não é de todo ruim, tem partes positivas. Há que se parabenizar quem fez, um acordo ortográfico fortalece a economia, a cultura dos países lusófonos. Mas tem coisas que são completamente desastrosas. Um exemplo disso é o uso do hífen”.
O acordo ortográfico foi criado como forma de unificar a língua nos oito países que falam o português. Além do hífen, as maiores confusões no Brasil são na acentuação de algumas palavras e no elevado número de exceções à regra.
A comissão do Senado apresentou neste ano um relatório propondo mudanças à presidente Dilma Rousseff e também à Academia Brasileira de Letras. O pedido de senadores, linguistas e juristas é para que mesmo em vigor, as regras possam ser revistas.
O professor Paulo Flávio Ledur, autor de diversos livros de português, concorda que há deficiência nas regras, mas é contra novas mudanças. “Teríamos mais custos (para adaptar livros) e uma grande perda de tempo na absorção de novas regras”, afirmou em entrevista ao Gaúcha Repórter.
Ele ainda afirma que a pretendida “unificação” do idioma entre os países continua não ocorrendo. Ele citou como exemplo a palavra fato, que para os portugueses, na prática, continua sendo usada como “facto”.
“Essa unificação nunca vai acontecer, então esse argumento cai por terra”.
Para quem ainda tem dúvidas sobre o acordo ortográfico, o professor e mestre em língua portuguesa Carlos André Nunes lista 10 regras que causam dúvida:
1. “auto-escola” passou a “autoescola”
Só haverá hífen no prefixo “auto”, se o segundo elemento começar por “h” ou pela vogal “o”;
2. “co-autor” passou a “coautor”
Não haverá hífen no prefixo “co”.
3. “contra-regra” passou a “contrarregra”
Foi acrescentada uma consoante de ligação “r” nos casos em que o prefixo termina com uma vogal e o segundo elemento começa por “r”.
4. “mini-saia” passou a “minissaia”
Foi acrescentada uma consoante de ligação “s” nos casos em que o prefixo termina com uma vogal e o segundo elemento começa por “s”.
5. “microondas” passou a “micro-ondas”
É obrigatório o hífen quando um prefixo termina em uma vogal e a consoante se inicia pela mesma vogal.
6. “geléia” passou a “geleia”
Não haverá mais acento gráfico diferencial de timbre no ditongo “ei” das paroxítonas terminadas em “a”.
7. “jibóia” passou a “jiboia”
Não haverá mais acento gráfico diferencial de timbre no ditongo “oi” das paroxítonas terminadas em “a”.
8. “para” (verbo) passou a “para” (verbo)
Não haverá mais acento gráfico diferencial de categoria gramatical nas paroxítonas terminadas em “a”. O acento ainda se mantém em “pôde” (pretérito perfeito do indicativo) para se diferenciar de “pode” (presente do indicativo).
A lógica do Acordo é a eliminação do acento gráfico nas paroxítonas terminadas em “a”, “e”, “o”, “em” e “ens”. Por esse motivo, a palavra “destróier”, embora contenha ditongo oral “oi”, manterá o acento. 9. “feiúra” passou a “feiura”
Deixam de existir os acentos diferenciais nos hiatos formados por “i” e no “u”, quando vierem antecedidos de ditongos.
Observação: o acento serve para demonstrar que as letras “i” e “u” se comportam, quando há acento, como vogais. Por isso, o sinal ainda persiste em “saída” e saúde”. No caso de “feiura”, é desnecessário.
10. “lingüiça” passa a “linguiça”
O trema caiu nas palavras da Língua Portuguesa, salvo casos raros de aportuguesamento, como Müller. Não houve alteração na pronuncia.