EDITORIAL

PRIVATIZAÇÃO DA CORSAN

Por décadas a fio a Companhia Riograndense de Saneamento teve usa hegemonia como estatal para conferir aos gaúchos o saneamento básico. Não que a empresa tenha sido um exemplo de atendimento nesta área, pois cidades como Porto Alegre, Pelotas, Novo Hamburgo e Uruguaiana já criaram seu próprio serviço de águas municipal. Todas sempre priorizando mais o abastecimento de água do que a coleta e muito menos ainda o tratamento do esgoto.

A CORSAN como estatal também teve seus altos e baixos em razão de ser pública e muito serviu para acomodações políticas e negociações nesta área. Não muito diferente do que foi empresas estatais como a CESA, AGASA, Corlac, CRT entre outras que atendiam aos pedidos de apadrinhados. Algumas até viraram feudos de determinado deputado e era praticamente voz corrente nos meios políticos de quem era o “dono” do pedaço.

Na onda privatista do ex-governador Antonio Britto a Corsan não foi cogitada e a “galinha dos ovos de outro” era então a Companhia Riograndense de Telecomunicações dividida em CRT celular e fixa. Hoje podemos dizer que são as atuais Vivo e Brasil Telecom (hoje a Oi) e que na época gerou muita confusão em função das ações da estatal.

As estatais gaúchas foram sendo desidratadas ao longo do tempo, justamente em razão dos prejuízos aos cofres do governo estadual e que gerou parte da dívida do estado que está agora entrando no Regime de Recuperação Fiscal Federal. A Corsan no governo Olívio foi a que mais dispendeu com locação de veículos e também de apadrinhados do partido. Aqui no litoral, a regional da empresa no primeiro mês do governo Rigotto recolheu mais de 100 veículos locados em nome da empresa numa despesa monstruosa e que servia para os divulgadores do Orçamento Participativo incursionasse na região e estes nem se quer retornavam à base ao final do expediente. A empresa somente dizia não haver recursos para investimentos em saneamento básico, mas milhões eram jogados pelo ralo.

Diante de todos os aspectos que as estatais gaúchas passaram a Corsan conseguiu se manter, mas sem a capacidade de investir o necessário para que possa concretizar o que preconiza o novo Marco Regulatório do Saneamento. Isto fez surgir a necessidade de se pensar na privatização ou na formação de Consórcios municipais de saneamento, uma vez que os municípios detêm participação societária na empresa. Como nicho político certamente que a resistência pela privatização seria óbvia, pois além do corporativismo dos servidores, também está ali um reduto da esquerda.

A venda da Corsan, já aprovada pela Assembleia deve ocorrer ainda este ano, segundo empenho e as palavras do governador Ranolfo, mesmo com os entraves no Tribunal de Contas e ações das mais diversas para que isto não ocorra. Neste sentido o governador Ranolfo decidiu não recorrer da ação e assim poder acelerar o processo de privatização que quer consolidar neste ano, já que o mandato se extingue em final de dezembro.

A estatização da Corsan, além de possibilitar atingir as metas de saneamento irá injetar recursos na companhia, mas poderá vir a encarecer os serviços devido aos altos investimentos que sempre foram deixados em segundo plano pelas administrações estaduais. No Litoral a esgotamento e tratamento de esgoto somente ocorreu devido a firmeza com que o Ministério Público Estadual e Federal atuou para evitar a poluição das lagoas e do mar. Isto vinha ocorrendo com o aumento a cada ano de pontos de contaminação em praias conhecidas dos gaúchos. O estado bem ou mal já cumpriu sua parte e se faz urgente um investimento que garanta água potável a todos os cantos do estado, assim como o tratamento de esgoto ir acompanhando esta evolução.