EDITORIAL

Litoral inflou

O Censo 2022 vinha sendo esperado com ansiedade pelos municípios do país inteiro. Muitos preocupados com perda de população e outros por terem inflado além do previsto e, portanto, com menos recursos federais como o Fundo de Participação dos Municípios. O Rio Grande do Sul teve um leve crescimento populacional e uma forte migração interna dos grandes centros urbanos. O que surpreende é o crescimento populacional do Litoral Norte onde o fator Pandemia deve ter contribuído em muito para que a região tivesse grandes percentuais de aumento de população como os casos de Tramandaí e Capão da Canoa.

No novo mapa demográfico do litoral norte os municípios de maior população são Capão da Canoa com mais de 63 mil e Tramandaí com mais de 54 mil. Em 10 anos Capão da Canoa teve um aumento de mais de 20 mil moradores o que em parte justifica o “boom” da construção civil que já vinha ocorrendo desde a sua emancipação e que se consolidou em mais de 30 anos desde seu desligamento de Osório.

Na pandemia foi intensa a movimentação de famílias em direção ao litoral em busca de ar limpo e maior liberdade. Muitas famílias que tinham casa de veraneio, passaram a ser casa de moradia para os mais idosos e que logo foi atraindo o restante dos familiares. Os municípios que durante décadas reclamam que no verão a população mais do que triplicava e não tinham infraestrutura para atendimento passaram a ter de investir mais em saúde, educação e serviços para atender a demanda crescente.

A construção de condomínios fechados abriu portas para uma classe de alto padrão e poder aquisitivo que passou a demandar mão-de-obra especializada e qualificada, como também a geral empregos para a mão-de-obra disponível na região.

O aumento populacional exigiu e ainda exige maiores investimentos do Estado e da União, bem como dos municípios no gerenciamento de área cruciais como a Saúde e Segurança Pública. A demanda por serviços médicos e hospitalares aumentou consideravelmente fazendo com que muitos profissionais venham da capital para prestarem serviços em seus consultórios em alguns municípios da região.

A melhoria da estrutura viária se torna cada vez mais importante, pois é notório o intenso movimento que se verifica na FreeWay de veículos particulares mesmo em períodos em que antes eram tidos como de baixa temporada. O Litoral praticamente passou a ter vida nas quatro estações, como já se desejava na divulgação turística de Osório com o slogam “Osório nas quatro estações” do então secretário de Turismo nos idos dos anos 80 e ex-prefeito Eduardo Renda.

O Litoral ainda tem muito potencial a ser desenvolvido na área turística, perde muito na oferta de leitos de hotéis em serviços turísticos e atendimento ao visitante. A situação hoje vivenciada em boa parte pela pandemia fixando os gaúchos em nossas praias contribuiu muito para este crescimento vertiginoso e cabe às gestões municipais compreenderem este efeito de fuga dos grandes centros para a nossa região em busca de tranquilidade e boa estrutura de atendimento em vários setores.

A vinda de empresas de grande porte dos ramos supermercadista, redes de farmácias, redes de lojas de eletrodomésticos e móveis se deve a visão empresarial do potencial econômico que se abre na região. Neste sentido o ramo imobiliário disparou na última década com o surgimento de grandes condomínios residenciais e a valorização do metro quadrado de terrenos.

Osório por sua vez ficou aquém das expectativas tendo a população crescido em torno de 15%, estando com menos de 50 mil habitantes quando se esperava que fosse mais de 51 mil. Nossa cidade ficou mais burocrática, é difícil construir, empreender e contrair investimentos que gerem emprego e não poluentes. Tanto é assim que nem conseguiu depois de 10 anos colocar em funcionamento sua estação de tratamento de esgotos e fazer o desassoreamento da lagoa que banha a cidade, mas que na verdade é uma grande fossa a céu aberto. Nossa cidade anda devagar e até pode vir a perder um dos primeiros e antes melhor hospital da região.

Enquanto outros municípios crescem ao se emanciparem de Osório estamos a marcar passo a exemplo do que foi Santo Antônio para Osório. Estamos naquele ditado do “tal pai, tal filho”.

Esperamos que o Litoral evolua como um todo e possa crescer com sustentabilidade e organização urbana e dando aos seus munícipes serviços de qualidade.