REGIÃO

Lagoa do Litoral Norte registra aparição de Palometas

Motivo de preocupação de biólogos e pescadores, o que era previsto se confirmou: a aparição de Palometas (Serrasalmus maculatus) no Litoral Norte gaúcho. A confirmação foi dada pelo Centro de Estudos Costeiros, Limnológicos e Marinhos (Ceclimar) da Universidade Federal do RS (UFRGS) na semana passada.

Segundo o professor Fábio Lameiro, os peixes foram encontrados na Lagoa da Fortaleza, em Cidreira. Vale ressaltar que o registro foi possível graças ao empresário Daniel Guglieri, da peixaria Casa do Pescador, de Cidreira. Ele falou que um pescador amador havia fisgado um peixe que não era comum na região e levou até a sua empresa, sendo o exemplar entregue ao Ceclimar, em Imbé, na última sexta-feira (19).

A partir daí o Ceclimar deu início aos estudos para saber o que ocasionou o aparecimento das Palometas na Bacia do Rio Tramandaí. Conforme o analista ambiental do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Maurício Vieira de Souza, esta espécie já era monitorada desde 2021, quando houve os primeiros registros no Rio Jacuí. De acordo com Maurício, esse tipo de peixe é natural da Bacia do Rio Uruguai e, que, através de conexões entre as Bacias, pode ter chegado ao Rio Tramandaí, assim como em outros rios. A principal causa apontada pelo especialista para a migração das Palometas para outras regiões é a drenagem em canais de irrigação de lavouras que retiram a água de uma bacia e desaguam em outra.

Caso isso se confirme, o cenário seria preocupante, visto que a palometa não é um peixe nativo dessas áreas, e sua presença poderia causar um desequilíbrio ambiental e interferir também na economia de locais que dependem desse equilíbrio. O professor Fábio Lameiro alerta para a possibilidade de até esticão de algumas espécies: “Mesmo que daqui a algum tempo a população da espécie invasora atinja um equilíbrio, outras já existentes podem se extinguir ou desaparecer regionalmente durante este processo. Ou então uma espécie que era abundante antes da invasão pode diminuir sua população e tornar impraticável a sua captura para o uso comercial ou para consumo”, afirmou Lameiro. Já em relação ao ataque a pessoas, Maurício Vieira explicou que esses animais só costumam atacar seres humanos caso sintam ameaçadas. Em todo caso, é melhor evitar contato com essa espécie.

SOLUÇÕES E PREVENÇÕES

Apesar de ainda não haver uma estimativa de até onde a presença exótica das Palometas poderá interferir nas bacias hidrográficas, pesquisadores gaúchos já trabalham em hipóteses de soluções a curto e longo prazo, além de ações preventivas. O professor Alexandre Garcia, do Núcleo de Oceanografia Biológica da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), aponta dois tópicos envolvendo outros peixes nativos como barreiras naturais, seja por meio de competição ou de predadores. No primeiro caso, seria fomentar a presença de espécies que disputem espaço com a palometa, como a traíra. Já a segunda ideia seria a instalação de predadores, como o peixe-dourado, para consumirem as piranhas. O entrave, no entanto, está na pesca predatória, que diminuiu muito a população desses peixes atualmente.

Uma terceira alternativa seria trabalhar alterações da espécie em laboratório, segundo o professor. Filhotes da palometa poderiam ser esterilizados e introduzidos nas bacias. Contudo, seria uma alternativa mais tecnológica, custosa e demorada. Apesar de não ser muito procurado dos supermercados no RS, a palometa pode ser consumida como alimento. A partir disso, a pesca comercial da piranha também poderia ser uma saída para diminuir a população do peixe. “Na Amazônia, por exemplo, piranhas podem ser encontradas em mercados nas cidades do Interior, mas é de baixo valor. Mesmo assim, qualquer pesca dela seria bem-vinda”, avalia Roberto Reis, professor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Palometa encontrada foi levada para o Ceclimar, em Imbé. – FOTO: Daniel Guglieri