Governo do Estado investirá R$ 13,8 milhões em ações contra a Dengue

Anúncio do governador Eduardo Leite ocorreu durante a Assembleia de Verão da Famurs. - FOTO: Gustavo Mansur

Nesta semana a Sociedade dos Amigos do Balneário de Atlântida (Saba), em Xangri-lá, recebeu a Assembleia de Verão da Federação das Associações de Municípios do Rio Grande do Sul (Famurs). O governador Eduardo Leite aproveitou a abertura do evento, realizada na manhã de quarta-feira (28/02), para fazer alguns anúncios.

Entre eles está o investimento do Governo gaúcho no valor de R$ 13,8 milhões para ser aplicado em ações de combate à Dengue. O dinheiro será aplicado para ampliação no horário de atendimento dos serviços de saúde da atenção primária; disponibilização de fontes de hidratação; oferta de exames de hemogramas; ampliação das equipes de vigilância e assistência; e reforço de mutirões de mobilização contra o mosquito transmissor da doença (Aedes Aegypti).

O repasse extraordinário será destinado pela Secretaria da Saúde (SES), em parcela única a todos municípios, para implementação e reforço de ações de vigilância e assistência em saúde voltadas ao enfrentamento da Dengue e outras arboviroses (Chikungunya e Zika). Os valores para cada cidade foram classificados de acordo com as populações, sendo R$ 75 mil para cidades com mais de 200 mil habitantes; R$ 50 mil para cidades com 50 a 200 mil habitantes; e R$ 25 mil para as cidades com menos de 50 mil habitantes. Com isso, Capão da Canoa (com cerca de 63,6 mil habitantes) e Tramandaí (com quase 54,4 mil habitantes) receberão 50 mil reais, enquanto que Osório (com aproximadamente 47,4 mil habitantes) e os outros 20 municípios do Litoral Norte serão contemplados com R$ 25 mil cada um.

SITUAÇÃO NO ESTADO

O RS vive uma pandemia de infestação do mosquito Aedes Aegypti, hospedeiro do vírus que transmite diversas doenças, incluindo a Dengue, além de Chikungunya, Zika, entre outras. Dos 497 municípios gaúchos, 466 estão infestados com o mosquito. No Litoral Norte, somente sete das 23 cidades não estão incluídas na lista: São elas: Caraá, Dom Pedro de Alcântara, Itati, Mampituba, Maquiné, Morrinhos do Sul e Tavares.

Até o final de quinta (29/02), o Estado havia registrado aproximadamente nove mil casos de Dengue, com oito óbitos. Das quase 20,4 mil notificações, cerca de 6,4 mil seguem em investigação, enquanto que pouco mais de cinco mil foram descartadas. Na comparação com 2024, houve um aumento de mais de 900% nos números. Vale ressaltar que a previsão do pico da doença no RS é para o mês de maio.

No Litoral Norte foram registradas 225 notificações, sendo 28 casos confirmados. Na comparação com o ano passado, em todo 2023 foram 86 casos confirmados. O maior número foi registrado em Santo Antônio da Patrulha (9), seguido por Torres (7) e Tramandaí (5). Também houve casos confirmados em Capão da Canoa (2), Osório (2), Maquiné (1), Três Cachoeiras (1) e Xangri-lá (1). Ainda na região, 92 casos seguem em notificação e 105 já foram descartados.

Em Osório são dois casos confirmados até o momento, sendo um registrado na Borússia e um no Interlagos. Vale ressaltar que o município registrou até fevereiro a metade do total de casos registrados em 2023, quando foram confirmados quatro casos. Ao todo, foram registradas 47 notificações, sendo a maioria no bairro Glória. É válido ressaltar que todos os bairros registraram ao menos uma notificação. Dessas, 18 seguem em investigação e 27 foram descartadas. Além disso, houve um caso confirmado de Chikungunya, no bairro Caravágio.

COMBATE AO MOSQUITO

A prefeitura de Osório, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, tem intensificado as ações de combate ao Aedes Aegypti, com qualificação de toda a equipe. Desde a semana passada, foi montada uma rede assistencial para atender à população. Além disso, está sendo feito um controle dos casos suspeitos, monitorando as áreas de mais registros para evitar uma proliferação de mosquitos e, por consequência, de casos de Dengue. Na noite de segunda-feira (26/02), foi realizada uma live, onde foram apresentadas a situação do município e medidas para a população evitar a proliferação do mosquito.

A Médica Veterinária Anne Marth afirmou que foram encontrados na cidade 32 focos do Aedes. No ano passado, esse número foi 72. Durante sua fala, Anne ressaltou a importância dos agentes de Saúde que, segundo ela, trabalham na redução dos depósitos de água, além de levar conhecimento a população. A veterinária disse a Vigilância de Saúde tem recebido inúmeras denúncias, principalmente em relação as piscinas, uma das principais dificuldades registradas pelas equipes de Saúde, visto que, na maioria dos casos, elas estão em casas abandonadas, local de difícil acesso para os agentes. Já em relação aos locais com acumulo de lixo, Anne declarou: “É importante que a população faça adesão a coleta seletiva, coloque o lixo no local adequado. Assim, ele vai ser descartado corretamente e não irá juntar água em nenhuma casa”, declarou a veterinária.

Em um segundo momento, Anne falou sobre a aplicação do fumacê, pedido constante na Secretaria de Saúde por parte dos moradores. Para quem não sabe, o fumacê é feito da mistura de um inseticida com um óleo, sendo a fumaça produzida da queima desse óleo. “O fumacê é utilizado no combate ao mosquito adulto, além de outros insetos. Porém, quando mais o mosquito entra em contato com o fumacê, mais ele acaba ficando resistente ao produto”, disse Anne. Conforme a veterinária, a aplicação só deve ser realizada em última opção, visto que pode ser prejudicial à saúde, principalmente para animais domésticos, crianças e idosos, provocando reações alérgicas. Anne ainda pontuou que o produto só está sendo aplicado na cidade em situações pontuais e espaços abertos, como foi o caso da Lagoa do Marcelino.

CUIDADOS COM A DENGUE

O Coordenador Médico da Secretaria de Saúde de Osório, André Bendl, fez um resumo sobre tudo o que a população precisa saber sobre a Dengue e outras doenças que podem ser adquiridas, por meio do vírus transmitido pelo Aedes Aegypti. O doutor começou a sua fala explicando a diferença da Dengue para a Covid. Segundo ele, apesar dos sintomas semelhantes das duas doenças, a Dengue não provoca sintomas respiratórios, como tosse, coriza e dor de garganta.

Conforme o médico, para uma pessoa ser considerada com suspeita de Dengue, Chikungunya ou Zika, ela precisa apresentar febre e pelo menos mais dois dos seguintes sintomas: dor de cabeça, náusea, vômito, dores abdominais, manchas avermelhadas, dores nas articulações e no corpo, etc. As doenças podem atingir qualquer faixa etária, sendo mais comum em gestantes, pessoas com menos de 13 anos e mais de 65, além de pessoas com mais de uma comorbidade e moradores de rua e/ou situação de vulnerabilidade social.

André alerta a população para que em caso de suspeita, a pessoa procure a unidade de saúde mais próxima. Todas as unidades estão realizando dois tipos de testagem: uma para pacientes com até cinco dias de sintomas e outro para pessoas com mais de cinco dias de sintomas. A coleta é feita nos Postos de Saúde e encaminhada para o Laboratório do Estado (Lacen), em Porto Alegre. A partir daí é registrada a notificação e o paciente passa a ser monitorado.

Em relação ao teste rápido, disponível nas farmácias, Bendl ressalta que mesmo que ele dê negativo, é necessário procurar uma unidade de Saúde. Segundo o médico, mesmo que a primeira testagem tenha dado negativa, é feito um novo teste para a definição. “É por isso que a confirmação da doença só vem depois de passado muitos dias da pessoa ter tido os sintomas”, explicou o doutor.

Em caso de pegar Dengue, alguns medicamentos não são recomendados, como é o caso das aspirinas, antiflamatórios e o AS. O uso desses remédios em pessoas com Dengue aumentam a chance de hemorragia, além de causar problemas nos rins. Nesses casos, a pessoa pode tomar Paracetamol ou Dipirona para aliviar as dores. Além disso, é recomendado tomar ao menos dois litros de água, visto que essa doença causa muita desidratação. O repouso também e recomendado.

O doutor André também falou das vacinas disponíveis. Aprovada em 2015, a Dengvaxia está disponível nas clínicas privadas, sendo necessário tomar três doses. Ela só é recomendada para quem já teve Dengue. Para os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS), está disponível a Qdenga. Aprovada em 2023, ela é recomendada para todos os públicos, sendo necessária a aplicação de duas doses. Além delas, também existe a Butantan-DV. A vacina está na terceira fase de testes, podendo entrar no mercado até o final deste ano. Nesse caso, só é necessária uma dose da vacina. Porém, até o momento, a vacina não foi testada com pessoas acima de 65 anos. Mesmo com a disponibilidades das vacinas, Bendl ressalta: “A solução para combater a Dengue é a prevenção. A vacinação serve para controlar possíveis casos da doença que possam surgir”, afirmou o médico.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No final das falas, a veterinária Anne Marth pediu para quem estivesse assistindo fosse um “multiplicador” das informações passadas durante a live: “Nós não conseguimos estar em todos os lugares. Vamos fazendo à medida que é possível”, comentou Anne, afirmando que: “Esse é o momento de destruir os focos do mosquito na cidade e que a gente tenha o menor risco de transmissão da doença”, finalizou a veterinária.

Já Bendl aproveitou a oportunidade para convocar as escolas, o comércio e as indústrias locais para reproduzirem os cuidados contra a Dengue. “Essa é uma responsabilidade sociocultural. Não podemos esperar o Governo. Temos que evoluir e colocar o nosso discurso em prática. Todos falam na prevenção, mas agora é hora de agir com a prevenção. O que cada um de vocês fizer nas suas casas vai fazer a diferença no combate de todos contra a Dengue”, concluiu o doutor André.

Live contou com a participação do doutor André Bendl, da veterinária Anne Marth e do secretário de Saúde de Osório Danjo Renê.