Desemprego cresce com pandemia em todo o país
A taxa de desemprego no Brasil subiu para 12,6% no trimestre encerrado em abril, atingindo 12,8 milhões de pessoas e com um fechamento de quase cinco milhões de postos de trabalho em relação ao trimestre anterior. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua) divulgados na última quinta-feira (28) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado representa uma alta de 1,3% na comparação com o trimestre encerrado em janeiro. Dessa forma, o número de pessoas na fila por um emprego aumentou em 898 mil pessoas em três meses, em meio aos impactos da pandemia causada pelo novo coronavírus na atividade econômica. Trata-se também da maior taxa de desemprego desde o trimestre terminado em março do ano passado, quando foi de 12,7%.
O Rio Grande do Sul é um dos Estados que mais vem sofrendo com a crise em meio a pandemia. Só no mês de abril foram mais de 74,6 mil demissões. Desse total, a sua maioria foi nos setores de Indústria (25.302), Comércio (19.747) e Informática (7.924). Somados, os três setores contemplam aproximadamente 70,8% do total de demissões no Estado, apenas no último mês.
Em comparação com os primeiros quatros meses do ano, o Rio Grande do Sul teve um aumento de demissões nos últimos a partir de março (período em que a pandemia se agravou). O saldo de demissões no Estado desde janeiro é de -53.122 demissões. No início do ano, o RS contava com aproximadamente 2,513 milhões de trabalhadores, até o início de maio esse número foi reduzido para aproximadamente 2,46 milhões de trabalhadores, tendo uma queda de 2,11%.
SETOR CALÇADISTA
Com vendas afetadas pela pandemia – no mercado interno, mais recentemente, e nas exportações, desde fevereiro – o setor calçadista passa pelo agravamento no número de demissões no Rio Grande do Sul, que já chegam 8,93 mil pessoas. O número equivale a cerca de 10% do total de trabalhadores do segmento em dezembro de 2019, segundo a Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados).
Em maio a RR Shoes, que opera a marca Via Uno demitiu 420 funcionários de sua fábrica em Santo Antônio da Patrulha e outros 115 da unidade do município de Caraá – um total de 535 trabalhadores. Segundo informações 340 pessoas seguem trabalhando nas duas unidades, sendo 300 no pavilhão de Santo Antônio da Patrulha e 40 em Caraá.
Os desligamentos se somam a outros mais de 400 na Piccadilly em Santo Antônio da Patrulha, de acordo o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria do Calçado e do Vestuário do Litoral Norte. O prefeito lamentou as demissões, lembrando que, além do impacto nas famílias dos trabalhadores demitidos, as demissões também impactam fortemente as contas públicas. Somente em ICMS, a expectativa é de que os repasses para Santo Antônio da Patrulha caiam pela metade. Segundo a prefeitura municipal, apenas a fábrica da Piccadilly gerava 10% do ICMS adicionado do município.
As demissões de empresas calçadistas também já ocorreram em outras cidades, como Dois Irmãos, Picada Café e Osório. Em Igrejinha, por exemplo, a Piccadilly havia demitido 148 funcionários em abril, segundo a Federação dos Sapateiros. Em Teutônia, no fim de março, a RR Shoes já tinha dispensado 400 pessoas, encerrando as atividades da planta industrial.
O problema vem se agravando em todo o Estado, dia a dia. “Santo Antônio tem cerca de 2,5 mil trabalhadores ligados ao setor, e em torno de 1,5 mil estão agora sem trabalho. A expectativa do sindicato é que até ao final dos cinco meses de auxílio-desemprego a situação esteja melhor e as empresas comecem a recontratar ao menos uma parte dos demitidos. O cenário é de apreensão em todo o setor, alerta Sandro Fagundes, membro do conselho fiscal da Federação dos Trabalhadores nas Indústrias do Calçado e do Vestuário do Rio Grande do Sul. “Onde ainda não houve demissões, já ocorreu redução de jornadas e salários. Mas isso vale por 90 dias, no máximo. O problema é como ficará depois deste prazo”, antecipa Fagundes.
LITORAL NORTE
E a onda de demissões no Litoral Norte gaúcho não para por aí. Para se ter uma ideia, em janeiro os 23 municípios da região contavam com 68.335 trabalhadores. De La para cá esse número caiu 7,9%, o que equivale a 5.403 empregos a menos. Só em abril foram 2.421 empregos a menos. Em Osório, por exemplo, a diminuição de empregos entre janeiro e abril foi de 4%, passando de 10.255 para 9.837 trabalhadores.
As piores situações são os casos de Arroio do Sal, Xangri-lá, Imbé, Mampituba e Torres, que perderam respectivamente: 16,31%; 14,93%; 12,80%; 11,59% e 10,89% do total de empregos. Somados os cinco municípios perderam de janeiro até abril 2.023 empregos, o que equivale 37,4% das demissões ocorridas em toda a região.
Em contrapartida, cinco dos 23 municípios do Litoral Norte tiveram um aumento de empregos de janeiro até abril. A melhor situação é em Maquiné que teve um aumento de aproximadamente quatro por cento passando a contar com 21 empregos a mais em relação a janeiro desse ano. Também tiveram aumento no número de empregos as cidades de: Caraá, Mostardas, Palmares do Sul e Tavares (Veja o quadro completo de empregos no Litoral Norte no final da matéria).
PROGRAMA DE MANUTENÇÃO DE EMPREGO
Para tentar evitar uma perda maior de empregos, o governo federal baixou, no começo de abril, uma Medida Provisória que autorizou a suspensão do contrato de trabalho por dois meses ou redução da jornada com corte de salário de até 70% num período de até três meses. A medida tem força de lei e já recebeu o aval do Supremo Tribunal Federal, mas precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional em até 120 dias para se tornar uma lei em definitivo.
O Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda prevê que o trabalhador permanecerá empregado durante o tempo de vigência dos acordos e pelo mesmo tempo depois que o acordo acabar. Os números do Ministério da Economia mostram que, até esta quinta-feira, mais de 8,2 milhões de trabalhadores aderiram ao programa.
Em meio aos impactos da pandemia de coronavírus e perspectiva de forte tombo do PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil em 2020, o Ibre/FGV projeta que o Brasil deverá encerrar este ano com uma taxa média de desemprego de 18,7%. O Ministério da Economia passou a projetar contração do PIB em 2020 de 4,7%, no que seria o pior resultado da série história que começou em 1900. A pesquisa Focus mais recente do Banco Central mostra que a expectativa do mercado é de retração de 5,89% para a economia este ano.
FOTO: Miriany Farias