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CASO ZORTÉA – PM é indiciado pelo homicídio de policial rodoviário aposentado em Torres

A Polícia Civil indiciou nove pessoas pelo envolvimento em uma confusão que terminou com a morte do policial rodoviário federal aposentado Fábio Cezar Zortéa, de 59 anos, em agosto de 2021, em Torres. O Policial Militar (PM) Ivan Júnior Scheffer Emerim, que efetuou os disparos que atingiram a vítima, foi indiciado por homicídio simples, tentativa de homicídio simples, omissão de socorro, fraude processual, lesão corporal e disparo de arma de fogo em local público. A defesa do PM afirma que a ação se deu em legítima defesa.

Além de Ivan, outras oito pessoas foram responsabilizadas por crimes identificados na ocorrência. O PM Dionatan Borba Menezes, que estava na abordagem, foi indiciado por fraude processual e omissão de socorro. A defesa diz que, além de não efetuar nenhum tiro, o agente também não cometeu os crimes descritos no inquérito.

Também foi indiciada a policial militar Gabriela Marx Silveira por abuso de autoridade, omissão de socorro e fraude processual, por supostamente ter alterado o local do crime, além de lesão corporal. Ela integrava a equipe de reforço policial que foi até o local da ocorrência. Já o militar Daniel Marcos Salva Terra Ribeiro foi indiciado por ameaça. Ele ficou no hospital fazendo a custódia de um dos filhos do policial rodoviário.

Os policiais Vagner Nunes Lacerda e Cleiton Silveira de Freitas, também foram indiciados por omissão de socorro e fraude processual. A defesa de ambos afirmou que vai provar a correta atitude dos PMs no decorrer do processo. Vale ressaltar que a conduta de todos os PMs está sendo apurada em um inquérito policial militar.

Além dos brigadianos, o vigilante Paulo Cesar Ferreira Walency, que acionou a Brigada Militar (BM) e depois aparece nas imagens desferindo golpes num dos filhos do policial rodoviário, vai responder por lesão corporal. Ele não quis se manifestar sobre o indiciamento.

Já os dois filhos do PRF aposentado, Luca de Carvalho Zortéa e Fábio Augusto Zortea, foram indiciados por dano simples, resistência à prisão, desobediência e desacato. Fábio ainda responde por lesão corporal por ter atingido o rosto de um dos PMs com um carregador de arma.

A investigação considerara que houve abuso de autoridade quando houve uso de cassetete para agredir um dos envolvidos, o que, segundo a polícia, não teria necessidade técnica. No relatório, foi mencionado o depoimento do médico que prestou atendimento, que disse que a demora foi de suma importância para a impossibilidade de sobrevivência da vítima. Segundo a polícia, uma testemunha relatou “o recolhimento do que se imagina serem cápsulas dos disparos e do veículo da cena”.

O CASO – A morte de Zortéa ocorreu na madrugada de segunda-feira, 23 de agosto de 2021. A vítima trabalhou como policial rodoviário entre os anos de 1994 e 2014, quando se aposentou.O inquérito aponta que um vigilante liga para o telefone 190 da Brigada Militar e avisa que dois rapazes estariam arrancando galhos de uma árvore e espalhando lixo pela rua. A polícia deslocou uma viatura com dois agentes, que cruzam com o veículo informado na ocorrência.Os policiais teriam dado um alerta sonoro, mas, segundo a investigação, o carro não para. Inicia ali a perseguição que só terminou no centro de Torres perto do prédio onde os dois jovens moraram.

No local, Fábio Cezar Zortéa teria intercedido contra a abordagem, quando houve uma briga entre os policiais e a família dos rapazes. O policial rodoviário aposentado foi baleado e morreu no local. Um dos filhos, Fábio, foi baleado e levado para um hospital. Um policial militar ficou ferido.

Vizinhos gravaram a abordagem e da confusão. Em um dos vídeos, um policial militar aparece imobilizando um dos filhos do PRF. Um segundo PM aparece golpeando o aposentado com um cassetete. Além disso, um vigilante privado vestindo preto e usando um capacete auxilia os agentes da BM na abordagem.

Inicialmente, os filhos do policial rodoviário federal foram presos em flagrante por desacato, resistência à prisão e tentativa de homicídio. Fábio, que acabou baleado, foi hospitalizado e ficou preso sob custódia. Dias depois, a juíza Marilde Angélica Webber Goldschmidt, da 1ª Vara Criminal de Torres, determinou a soltura de Fábio e Luca, afirmando que eles não representam risco à ordem pública.

Ao todo, cinco policiais militares foram afastados das atividades, sendo dois que estavam na abordagem e três que prestaram apoio depois. Na época, o vice-governador e secretário da Segurança Pública, Ranolfo Vieira Júnior criticou a forma da abordagem. “Os fatos falam por si só. A boa técnica não recomenda abordagens desse tipo. As investigações estão em andamento”, comentou.

Foto: Divulgação