CASO BÁRBARA: Policiais que demoraram 85 horas para registrar morte de adolescente são suspensos pela PRF
A Polícia Rodoviária Federal (PRF) concluiu, nessa segunda-feira (22), a investigação sobre a conduta dos três policiais que demoraram 85 horas para registrar o acidente que causou a morte da adolescente Bárbara Andrielli Mendes de Moraes, de 15 anos, na madrugada do dia 03 de março de 2019, durante um acidente de trânsito ocorrido na BR-290 (Freeway), em Santo Antônio da Patrulha.
Um ano, três meses e 16 dias após o episódio, a PRF concluiu que os agentes descumpriram o manual de acidentes da corporação ao não registrarem o fato imediatamente. A corporação diz que isso ocorreu “devido a troca de plantão” dos agentes.Ainda segundo a PRF, o teste do bafômetro não foi realizado no local em função do atendimento médico. A corporação acrescenta que, no hospital, o procedimento deixou de ser feito por falta de meios da instituição de saúde.
Diante dos fatos, foi definida a suspensão de dois dias para um dos agentes que atenderam a ocorrência no local. O outro recebeu suspensão de um dia. Para o terceiro, que coordenava a guarnição desde a base, a punição foi uma advertência. A definição da punição foi do superintendente da PRF no Rio Grande do Sul, Luis Carlos Reischack Júnior. Vale ressaltar que os nomes dos policiais envolvidos não foram divulgados.
Em nota, a corporação disse que o trabalho foi “minucioso” e desenvolvido por uma comissão interna, composta por policiais considerados de conduta isenta. A PRF garante que foram ouvidos “todos os envolvidos e testemunhas apontadas e respeitado o contraditório e a ampla defesa”.Segundo a PRF, ainda cabe recurso da determinação do superintendente por parte dos agentes punidos. Um dos policiais chegou a ser indiciado pela Polícia Civil por prevaricação — quando um funcionário público deixa de realizar sua função. Depois, o nome dele foi retirado do processo principal para que responda ao Judiciário federal. No indiciamento, o delegado Valdernei Tonete disse que o policial foi maleável em razão do motorista ser um médico.O Ministério Público Federal (MPF) afirma que o caso está em análise no órgão.
O CASO
A jovem Bárbara retornava com o pai, a mãe e um amigo para a casa, em Tramandaí, na madrugada do dia três de março de 2019, quando a moto que estava foi atingida por um veículo em um trecho da Freeway, no município de Santo Antônio da Patrulha. A colisão acabou tirando a vida da adolescente, além de deixar feridos os seus pais e o amigo. Na época, testemunhas afirmaram que o motorista apresentava sinais de embriaguez. O condutor do automóvel que é médico, estava com a Carteira Nacional de Habilitação (CNH) suspensa. Ele declarou aos policiais ter crise de asma, foi levado para um hospital da região e, posteriormente, acabou sendo liberado sem sequer comparecer em uma delegacia ou passar pelo teste do bafômetro.Em depoimento, depois de serem investigados, os policiais declararam que ele recusou o teste. No entanto, a informação não consta no boletim de ocorrência, registrado na Polícia Civil 85 horas após o acidente.
Em 19 de junho de 2019, a Justiça de Santo Antônio da Patrulha tornou o médico réu por homicídio doloso eventual (quando se assume o risco de matar) duplamente qualificado e outras três tentativas de homicídio. O processo sobre o acidente ainda está em fase inicial e não foi realizada nenhuma audiência. O médico responde em liberdade, enquanto aguarda o julgamento.
Outro processo, movido pela família, busca reparação por danos causados pelo acidente. A batida do carro do médico com as duas motos também feriu o pai, a mãe e um amigo da família da adolescente, que viajavam juntos e foram arremessados com a força da colisão. Os pais de Bárbara ainda têm sequelas da colisão. A mãe da vítima quebrou os ossos de uma das pernas e, até hoje, não conseguiu voltar ao trabalho.O pai, Douglas Samuel Ozório de Moraes, é motoboy e segue trabalhando apesar das dores no corpo.
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