ARTIGO DE OPINIÃO
Dom Jaime Pedro Kohl – Bispo de Osório
Continuando nossa reflexão do mês vocacional, hoje vamos refletir sobre a Vida Consagrada. Oferecer toda a vida e para sempre são características fundamentais da vida religiosa consagrada e manifestam a radicalidade dessa forma de seguir Jesus. Isso choca o jovem de hoje, porque o pensamento hodierno é marcado pelo relativismo, provisório e imediatismo.
A dificuldade de assumir compromissos perpétuos e estáveis é uma realidade. Entregar a própria vida para ser gasta no serviço dos irmãos e na oração, como é a Vida Consagrada, assusta o jovem, mas é assim mesmo. Humanamente falando não se explica, parece uma loucura. Somente uma visão de fé pode ajudar a entender e perceber nessa opção um grande valor, um verdadeiro tesouro, uma grande graça.
Não são poucas as pessoas – cristãos e católicos praticantes – acharem isso uma covardia, uma estupidez, ou seja, não conseguem perceber nessa opção de vida, um bem e, muito menos, que isso possa fazer alguém feliz e realizado.
Compreensível porque a ideia de felicidade e realização que é vendida pela mentalidade consumista e hedonista atual é aquela de uma liberalidade total, onde cada um faz o que bem quer e entende, sem ter que prestar contas a ninguém, nem aos pais, nem à Igreja, nem mesmo a Deus.
Diante dessa mentalidade e imaginário da nossa juventude forjada pela grande mídia com seus programas fúteis, fica difícil aos jovens ventilarem a possibilidade de uma outra forma de vida, marcada pela disponibilidade total ao serviço gratuito das pessoas mais necessitadas de atenção e cuidado em nome de Deus.
Deixar os benesses e comodidades que o mundo oferece para dedicar-se gratuitamente aos filhos dos outros, só mesmo para pessoas especiais. À essa “loucura” Deus chama e envia. É verdade, isso não é para todos, mas somente para os que se sentem chamados a amar loucamente.
A história de cada vocação é a história de um inefável diálogo entre Deus e o homem, entre o amor de Deus que chama e a liberdade da pessoa, que no amor, responde a este chamado. Não basta a boa vontade. É graça!
O primado da graça na vocação encontra a sua perfeita proclamação na palavra de Jesus: “Não foram vocês que me escolheram, mas eu escolhi vocês e vos constituí para irdes e produzirdes fruto e que o vosso fruto permaneça” (Jo 15, 16).
A vocação é sempre uma graça divina e nunca um direito da pessoa. A entrega total e para sempre da própria liberdade, afetividade e direito de possuir é um anúncio constante de algo maior que nem a todos é dado compreender. A vida consagrada é um sinal visível que aponta para o invisível: Deus!
Para refletir:
– Consigo ver na Vida Religiosa Consagrada uma graça e um bem para a igreja e para a humanidade?
– Se Deus chamasse seu filho ou filha para essa vocação, qual seria sua reação? Ficaria feliz e daria todo apoio ou tentaria dissuadi-los?
– Como vejo e julgo essa opção de vida? Graça ou desgraça?