Ciclone causa mortes e destruição no Litoral Norte
O Rio Grande do Sul foi atingido por um ciclone extratropical na última quinta-feira (15). O fenômeno natural ocasionou chuvas intensas, ventos de mais de 100 quilômetros por hora (km/h) e ondas de cerca de seis metros de altura, o que gerou diversos estragos em diferentes municípios do Estado.
Para se ter uma ideia, apenas em Maquiné choveu cerca de 300 milímetros em menos de 24 horas. No Litoral Norte gaúcho, o grande volume de água ocasionou a elevação do Rio Três Forquilhas atingiu 4,2 metros acima do seu nível normal e que acabou transbordando. Com isso, algumas vias dos municípios de Itati, Terra de Areia e Três Forquilhas ficaram interditadas, incluindo acessos a ERS-486 (Rota do Sol), sendo impedida a passagem de veículos e pedestres.
Não bastasse isso, a forte correnteza acabou ocasionando a queda de pontes na região. Uma delas fica na localidade de Rio do Meio, em Mampituba, único acesso dos moradores a área central da cidade. Na ERS-494, a cabeceira da ponte que fica no limite entre Três Cachoeiras e Morrinhos do Sul, na localidade de Morro Azul, acabou caindo. O local foi isolado para evitar acidentes. Com isso, o acesso a Morrinhos passou a ser feito pela Praia Grande (SC).
No quilômetro 34 da ERS-389 (Estrada do Mar), em Xangri-lá, parte do asfalto cedeu abrindo um buraco na pista, o que ocasionou bloqueio parcial no trecho. Os agentes do Departamento Autônomo de Estradas e Rodagem (Daer) foram acionados e taparam o buraco, liberando o trânsito. Já na ERS-474, um automóvel acabou caindo em uma cratera que se abriu na altura do quilômetro três da rodovia, em SAP. Por sorte, ninguém se feriu. O local chegou a ser isolado com risco de erosão do trecho e os funcionários da EGR, responsável pela rodovia, foram ao local para iniciar os trabalhos de reparo.
TRECHOS AINDA BLOQUEADOS
Até o final desta terça-feira (20), ainda eram registrados diversos trechos bloqueados em rodovias da região. Em Santo Antônio da Patrulha, dois pontos seguiam interditados. No quilômetro dois da ERS-474 e no quilômetro sete da rodovia de acesso a Caraá. No primeiro trecho está sendo realizados desvios pela Rua Alzemiro Silva de Oliveira e Avenida Afonso Porto Emerim, passando pelo centro de SAP pela Rua Capitão José Machado da Silva e pela ERS-030. Vale ressaltar que, do quilômetro um ao seis da rodovia, está sendo permitido somente acesso ao local. Já quem pretende ir a Caraá, deverá realizar o desvio pela rodovia municipal.
A Empresa Gaúcha de Rodovias (EGR) definiu as ações que serão estabelecidas para a reconstrução da ponte localizada no quilômetro três da ERS-474. Por determinação do diretor-presidente da EGR, Luiz Fernando Záchia, que vistoriou a estrutura danificada juntamente com o vice-governador Gabriel Souza, a reconstrução está sendo tratada com máxima prioridade, tendo em vista que a rodovia é estratégica para o setor logístico do RS e o bloqueio da ponte interfere diretamente na locomoção de moradores da região. “Determinei que a EGR deve concentrar as suas ações na elaboração do projeto e na contratação de empresas para a execução da obra”, ressaltou.
Como medida emergencial para amenizar os impactos no trânsito, a EGR anunciou a construção de um desvio provisório ao lado da ponte para facilitar a trafegabilidade de veículos e facilitar o tempo de deslocamento dos motoristas. A obra do desvio terá início imediato e o prazo de conclusão é de aproximadamente sete dias. De acordo com o diretor-técnico da EGR, Luis Fernando Vanacor, a ponte terá que ser totalmente reconstruída. “Em função das fortes chuvas, fizemos avaliações técnicas que comprovaram o colapso da estrutura que veio a cair”, explicou. Vanacor salientou que tanto a construção do desvio quanto o desmanche da estrutura remanescente iniciarão de imediato. “Tão logo sejam definidos os trâmites começa a construção da nova estrutura”, reforçou.
SETE MORTES NO LITORAL
Segundo o Corpo de Bombeiros Militar (CBM), mais de 100 pessoas ficaram ilhadas e precisaram ser resgatadas pelas equipes de socorro. As cidades mais atingidas foram Caraá, Maquiné e Santo Antônio da Patrulha (SAP). Ao menos sete pessoas acabaram morrendo na região, sendo quatro em Caraá e outras três em Maquiné. Além delas, uma segue desaparecida, em Caraá. No Estado, 14 pessoas morreram devido ao ciclone.
Entre as vítimas, está a professora do Instituto Federal do RS (IFRS), Campus Osório, Agnes Schmeling. A docente de 57 anos de idade foi encontrada morta após a residência onde morava, em Maquiné, ser atingida por um deslizamento de terra. Além dela, a mãe, também chamada Agnes Schmeling, de 91 anos, e o esposo, Almir Marques Portela Lopes, de 70 anos, também estavam no imóvel no momento do deslizamento e acabaram falecendo. Conforme os Bombeiros, os três corpos foram encontrados juntos aos escombros.
O velório e o enterro dos três aconteceram no domingo (18), no município de São Leopoldo, cidade natal da docente. O IFRS, Campus Osório decretou três dias de luto oficial pelo falecimento da professora Agnes. As atividades acadêmicas e administrativas foram suspensas até segunda-feira (19), sendo retomadas na terça (20). Já os demais Campi do IFRS também decretaram luto por três dias, porém com a manutenção das atividades acadêmicas e administrativas.
Já as vítimas registradas em Caraá, são dois homens, de 57 e 76 anos, e um adolescente, de 14 anos. Os três acabaram sendo mortos após serem arrastados pela enxurrada. Já a outra vítima, uma mulher de 73 anos, foi encontrada morta soterrada após deslizamento de terra. Vale ressaltar que os nomes das pessoas não foram divulgados.
ALERTA E MUITOS TRANSTORNOS
Devido às chuvas, prefeituras da região acabaram cancelando as aulas na sexta (16), como foram os casos de Osório, Torres e Tramandaí. Já o Hospital Santa Luzia, em Capão da Canoa, acabou sendo interditado após a água invadir os corredores da instituição. Pacientes precisaram ser transferidos para outros hospitais da região.
Além da chuva, o vento também acabou causando transtornos e estragos na cidade, derrubando galhos, árvores, postes, destelhando casas, arrebentando fios de energia, etc. Conforme a CEEE Equatorial, 386 mil clientes ficaram sem luz no RS devido o temporal, sendo aproximadamente 54 mil somente no Litoral Norte. Os municípios mais afetados foram Cidreira, Imbé e Tramandaí. Vale ressaltar que até o final desta terça-feira (20), ainda havia moradores sem luz na região e os trabalhadores da CEEE seguiam realizando o trabalho de manutenção.
MULTIRÃO EM OSÓRIO
Entre sábado (17) e segunda-feira (19), as equipes das Secretarias de Obras e Meio Ambiente realizaram os trabalhos de recuperação em Osório, após os danos causados pelo ciclone extratropical. Os pontos mais atingidos na cidade foi o distrito da Borússia e os bairros de Aguapés e Laranjeiras.
Acompanhado do secretário de Obras e Saneamento Claudio Aliardi, o prefeito Roger Caputi esteve vistoriando as ações: “Estivemos nos locais mais afetados do nosso município, providenciando os primeiros reparos, zelando e garantindo o acesso dos cidadãos as suas propriedades, as empresas, aos bairros e em especial os acessos de divisas do município de Caraá, para em seguida adotarmos medidas efetivas. Já realizamos trabalhos de recuperação de estradas e de atendimento da população desses locais”, comentou o prefeito de Osório. Já Aliardi se colocou à disposição da comunidade e reforçou que a prefeitura está fazendo tudo que é possível para atender da melhor forma a população osoriense.
MAIS DE R$ 1 MILHÃO PARA MUNICÍPIOS
O governo do Estado anunciou o repasse de R$ 1,1 milhão para algumas cidades do Litoral Norte. Desse total, o valor será dividido da seguinte maneira: R$ 256 mil para Maquiné, R$ 232,9 mil para Dom Pedro de Alcântara, cerca de R$ 215,9 mil para Itati, R$ 232,9 mil para Morrinhos do Sul e R$ 218,9 mil para Três Forquilhas.
A Defesa Civil do RS montou um QG de emergência na sede da Escola de Formação e Especialização de Soldados (Esfes) de Osório para auxiliar as cidades que buscam recursos para reconstrução. No domingo (18), representantes das nove regionais gaúchas se reuniram para organizar as ações, concentradas junto ao Batalhão da Brigada Militar (BM) do município. O Coronel Zanini, coordenador regional da Defesa Civil, realizou uma coletiva de imprensa, onde falou sobre o trabalho que está sendo realizado. Já o chefe de Sessão de Prevenção do 9° Batalhão de Bombeiros Militar, o major Acunha aconselhou os moradores a não frequentarem as áreas de risco, principalmente, devido a possibilidade de novos deslizamentos.
De acordo com a Defesa Civil, 2,1 milhões de pessoas foram afetadas direta ou indiretamente pela passagem do ciclone extratropical no RS. Cerca de cinco mil pessoas estão em abrigos públicos e outras 1,5 mil foram para casa de amigos, parentes ou vizinhos. A BM resgatou 1,2 mil pessoas e 800 animais. Já o Corpo de Bombeiros divulgou que 2,5 mil pessoas foram socorridas pela corporação. Os números foram divulgados em reunião conduzida pelo vice-governador do Estado, Gabriel Souza, com os prefeitos de parte dos municípios atingidos, representantes da União e da Defesa Civil.
O encontro ocorreu no auditório do Comando Regional de Polícia Ostensiva do Litoral Norte (CRPO Litoral), em Osório, na manhã de segunda (19). Presente na reunião, o deputado estadual Luciano Silveira (MDB) afirmou que fará “tudo o que estiver ao seu alcance para amenizar o sofrimento daqueles que foram mais afetados”. Já na terça-feira (20), por intermédio de Luciano e do deputado federal Alceu Moreira (MDB), a Secretaria Nacional de Proteção e Defesa Civil recebeu em Brasília (DF), os prefeitos do Litoral e demais regiões atingidas pelas fortes chuvas na semana passada. O encontro serviu para que as cidades encaminhassem os pedidos de recursos ao governo federal, o qual se colocou à disposição dos municípios.
VOCÊ PODE AJUDAR
Quem quiser ajudar os municípios de Caraá e Maquiné, pode realizar qualquer doação na sede da Secretaria Municipal de Assistência Social e Habitação (Av. General Osório, nº 2.230, bairro Glória), na Vila Olímpica (Avenida Marcílio Dias, nº 850, bairro Medianeira) ou na Unicnec (Rua Vinte e Quatro de Maio, nº 141, bairro Centro). Os itens prioritários no momento são: água, açúcar, azeite, escova de dente, esponja de louça, feijão, fósforo, fraldas geriátricas (de 30 a 40 quilos), leite, velas, além de sacolas para a montagem das cestas básicas. Atualmente, o número é de 480, entre desabrigados e desalojados nos dois municípios da região. Mais informações nos telefones: (51) 3663-8315 ou (51) 99664-3085.