União quer que Estado explique por que ainda não aderiu ao RRF

União quer que Estado explique por que ainda não aderiu ao RRF

Em reunião realizada na tarde de quarta-feira (16), a Comissão Especial para a adesão do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF), presidida pelo deputado Frederico Antunes (Progressistas), ouviu o secretário de Fazenda, Marco Aurélio Cardoso, e o procurador-geral do Estado, Eduardo Cunha da Costa, sobre os aspectos financeiros e jurídicos para ingresso do RS no RRF. Também foram discutidos os riscos de cassação da liminar, em vigor desde agosto de 2017, que permitiu ao Estado suspender o pagamento das parcelas da dívida com a União nesse período, e a manifestação da União, na semana passada, que questionou o porquê o RS ainda não tinha aderido ao RRF.

Aspectos financeiros

O secretário de Fazenda concluiu sua apresentação, realizada nas duas últimas reuniões do órgão técnico, lembrando que, na semana passada, falou dos benefícios do RRF para o Estado. Em relação ao aspecto financeiro de ingressar ou não no RRF, Marco Aurélio disse que o RS vem, desde 1999, comprometendo uma média de 13% da receita corrente líquida para o pagamento da dívida com a União, mesmo com várias negociações feitas ao longo do tempo. De acordo com o secretário, entre 2016 e 2017, houve redução desse índice e, a partir de 2017, o Estado passou a pagar as dívidas com terceiros e não com o governo federal em função da liminar.

Marco Aurélio explicou que, se a liminar cair, além de voltar a pagar a prestação com a União terá que pagar o parcelamento do passado, comprometendo de 11% a 12% da receita corrente líquida na próxima década. Ele defendeu a adesão do Estado ao RRF como forma de suavizar o gasto com a dívida, já que, embora o RRF não alongue o vencimento, ele alonga o prazo médio de pagamento.

Outros benefícios seriam a contratação de operações de crédito com garantia da União, destacou o secretário. Ele ressaltou ainda que as vedações previstas pela União não são absolutas e quem vai propor o plano é o Estado. “Entrar no RRF nos parece uma obrigação advinda da realidade”, concluiu o secretário de Fazenda.

Aspectos jurídicos

O procurador-geral do Estado (PGE) falou sobre as circunstâncias de negociação com a União que levaram a concessão de liminar pelo ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, em agosto de 2017, como forma de antecipação dos efeitos do RRF ao qual o RS iria aderir. Na sequência, abordou o diálogo com a Secretaria do Tesouro Nacional que vem sendo realizado desde então e informou que, na semana passada, a Advocacia-Geral da União encaminhou documento ao ministro Marco Aurélio pedindo que o Estado fosse intimado para adesão imediata ao RRF. O ministro já intimou o RS para se manifestar sobre o porquê ainda não aderiu ao RRF.

Eduardo Cunha da Costa explicou que, após manifestação do Estado, o ministro pode decidir por revogar a liminar e, ainda que isso não ocorra, o julgamento da liminar pode ir para apreciação do colegiado do STF no plenário virtual, correndo o risco dela também ser revogada. Ele lembrou que, quando da concessão da liminar, o julgamento do ministro foi muito mais fático do que jurídico, o que não deve ocorrer no plenário do STF, que se aterá muito mais aos aspectos jurídicos para a decisão.

Além disso, o ministro Marco Aurélio deve se aposentar compulsoriamente nos próximos meses, sendo que seu cargo será ocupado por novo ministro a ser indicado pelo presidente da República, que herdará a relatoria dos processos que hoje estão com Marco Aurélio. Ou seja, o novo ministro poderia revogar a liminar.

Para o procurador-geral do Estado, a iminente revogação da liminar seria catastrófica para o RS, já que haveria necessidade de pagamento do retroativo de cerca de R$ 12 bilhões, com juros e correção monetária, de forma imediata, além da parcela mensal. Garantiu que a Procuradoria Geral do Estado está fazendo todo o esforço para isso não ocorra. “No aspecto jurídico, não nos resta senão a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal o mais rápido possível e que, até lá, consigamos manter a liminar”, defendeu o PGE.

Foto: AL-RS