Pesquisa desenvolve variedade de cebola com maior durabilidade pós-colheita
Plantação de Tavares é uma das que realizou o teste da nova cebola.
Um novo cultivo de cebola desenvolvida pela pesquisa da Embrapa se destaca, principalmente, pela resistência do bulbo após a colheita, garantindo maior durabilidade e oferta nos períodos de entressafra. A BRS Prima foi desenvolvida pela Embrapa Clima Temperado (RS) e pela Embrapa Hortaliças (DF), e será lançada oficialmente nesta quarta-feira (8), durante Reunião Técnica da Cebola, no município gaúcho de São José do Norte, principal região produtora no Estado e berço da cebolicultura no país.
A maior durabilidade ocorre pela alta retenção e pela espessura grossa das escamas (casca), fator que protege os bulbos de fungos e bactérias e fornece maior tolerância ao armazenamento e ao transporte. A durabilidade pós-colheita também é importante para garantir escalonamento da comercialização ao produtor, que pode aguardar e contornar momentos de baixo preço em safras com volume de produção acima das expectativas.
O novo cultivo ainda apresenta alto percentual de bulbos de padrão comercial, de preferência dos consumidores: coloração amarelo-avermelhada e formato globular. Essas características garantem competitividade em relação aos demais cultivos plantados na mesma região e garantindo mercado ao produtor de cebola da região Sul do Brasil, tanto da agricultura familiar como do agronegócio.
Desempenho no campo – Agronomicamente, a BRS Prima apresenta resistência a doenças foliares, devido à alta cerosidade das folhas. Isso representa menor uso de químicos na lavoura. Com relação ao desempenho, ela apresenta alto potencial produtivo, com estabilidade de produção. A produtividade média é de 44,1 toneladas por hectare, com pico de 57,9 toneladas por hectare em avaliações no município gaúcho de Rio Grande. O cultivo da nova variedade é indicado para os estados do RS e Santa Catarina, onde o material foi testado e validado.
A cultura da cebola – A cebola é a terceira hortaliça em importância econômica no País, atrás do tomate e da batata, com produção de cerca 1,5 milhão de toneladas em 2020 e valor bruto estimado em 2,5 bilhões de reais, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A principal região produtora está no Sul, que concentra mais de 50% da produção nacional, mas a Região Nordeste também tem participação importante nesse volume.
Entre os principais estados produtores estão SC, com produção de 420 mil toneladas; Bahia, 224,8 mil t; e Minas Gerais, com 180,9 mil t, ainda de acordo com dados do IBGE de 2020. Estima-se que 70% da cebolicultura brasileira seja proveniente de mão de obra familiar, com contratação de trabalhadores eventuais para o plantio e colheita, em áreas de até dez hectares.
Desenvolvimento – A BRS Prima foi desenvolvida a partir de recursos genéticos locais (crioulos) do Litoral Norte gaúcho e armazenados no Banco Ativo de Germoplasma (BAG) da Embrapa, o que confere maior resistência a condições adversas que podem ocorrer durante o cultivo: surgimento de pragas e doenças e seca. A validação ocorreu durante cinco safras, em Unidades de Observação no Sul do País, nos municípios de Pelotas, Rio Grande, Canoinhas (SC) e Chapadão do Lageado (SC).
O material teve origem a partir de cruzamento entre a cultivar Primavera, lançada em 1992, e a população local (crioula) Pêra Norte, de maneira que as características desejáveis dos bulbos da Pêra Norte (retenção alta e espessura grossa das escamas) fossem transferidas para a cultivar Primavera, que se destaca pelo ciclo precoce e pelo formato globular dos bulbos. Ao todo, o desenvolvimento de uma nova cultivar leva entre dez a doze anos, com participação da pesquisa e do setor produtivo. “Nós, na Embrapa, estamos sempre nos adequando e buscando novos materiais. Mas é sempre importante realizar um trabalho participativo, com os agricultores validando o material e indicando os atributos importantes para o melhoramento, tanto do ponto de vista do produtor como do consumidor”, completa a pesquisadora.
Experiência e contribuições do agricultor
Um dos agricultores que tem contribuído para as avaliações da BRS Prima e de outras futuras cultivares de cebola é o Rui Miguel Lemos, do município. Ele produz cerca de 70 toneladas anuais de cebola, em uma área aproximada de três hectares. Apesar da produção diversificada, o sustento vem dessa cultura. Em 2017, ele testou e aprovou o material. “É uma produtividade incrível e tem uma casca semelhante à da [variedade] Bola Precoce. É uma ferramenta a mais para o produtor, uma variedade a mais para ter alta produtividade no cultivo da cebola”, declara.
Lemos, que também é presidente do Subcomitê da Cebola no Estado, ainda tem contribuído com a pesquisa, na instalação de Unidade de Observação (UO) de cebola. Junto de outros sete produtores da região, ele irá avaliar nesta safra o desempenho de três variedades comerciais, incluindo a BRS Prima, e de um clone – material ainda em avaliação para lançamento.
Oferta de sementes para os agricultores
Por ser de polinização aberta, a produção de sementes da nova cultivar se torna mais fácil, resultando em menor preço da semente. De modo geral, a semeadura da BRS Prima ocorre nos meses de abril e maio, com transplante de mudas em junho e julho, para colheita de novembro a dezembro. A comercialização das sementes da variedade é feita por produtores de sementes licenciados por meio de Edital de Oferta Pública permanente. Para serem licenciados, os produtores precisam estar inscritos no Registro Nacional de Sementes e Mudas (Renasem) como produtores de sementes de cebola (Allium cepa L.).
No último edital, sete produtores foram licenciados para a multiplicação e comercialização de sementes da BRS Prima e quatro já assinaram contrato até o momento. Os respectivos contratos podem ser encontrados na página do cultivar, no portal da Embrapa. A multiplicação leva em torno de dois anos, portanto as sementes estarão disponíveis aos produtores de cebola para a safra de 2024.
Propriedades culinárias e funcionais – Por apresentar alta pungência (picância), a BRS Prima é indicada para uso in natura, como condimento na culinária, e é rica em quercetina – substância natural, com propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, que reduz o risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares e de certos tipos de câncer. A cebola é uma das principais fontes de quercetina na dieta humana.
Foto: Fernanda Birolo