GERAL

Comércio gaúcho confirma reação em 2022 e se prepara para um 2023 com muitos desafios

Validando a projeção feita pela Federação das Câmaras de Dirigentes Lojistas do RS (FCDL-RS) e Escola de Negócios da PUC-RS, em dezembro de 2021, o ano de 2022 trouxe bons motivos para o comércio gaúcho celebrar. A análise produzida neste ano, apresentada em entrevista coletiva concedida pelo presidente Vitor Augusto Koch e pelo economista e professor da Escola de Negócios da PUCRS, Gustavo Inácio de Moraes, mostrou o balanço positivo de 2022 e apontou caminhos para o comércio gaúcho em 2023.

Os diferentes segmentos do setor tiveram um desempenho muito positivo, fechando o ano com um incremento de 5% na comparação com o ano anterior. “Ficamos muito satisfeitos em observar que a projeção realizada ao final de 2021 se concretizou. Acreditávamos em um crescimento acima de 2% para a economia do país e isso ocorreu. A força criativa de todos os atores envolvidos na propulsão da roda econômica brasileira foi fundamental para podermos, hoje, celebrar indicadores positivos”, avaliou o presidente Vitor Augusto Koch.

O dirigente destacou o desempenho positivo dos diferentes segmentos que compõem o comércio gaúcho, especialmente aqueles que trabalham com produtos de menor valor agregado. “Aconteceu um crescimento heterogêneo do nosso comércio. Quem atua com artigos mais populares teve benefícios maiores com a retomada econômica. Já os setores que dependem do parcelamento ou comercializam produtos mais sofisticados tiveram um pouco mais de dificuldades, porém, também registraram bom desempenho neste ano”, afirmou Koch.

Enquanto o comércio geral deve crescer cerca de 5% neste ano, o comércio ampliado, que inclui a venda de veículos e material de construção, deve registrar incremento de 3%. A análise da FCDL-RS e da Escola de Negócios da PUCRS mostra que isso se deve às dificuldades impostas pelo aumento da taxa de juros e a retomada do emprego acontecendo em posições com menor remuneração. “Mantida a tendência de crescimento do emprego e a estabilidade desses postos de trabalho, além da redução da taxa de juros, a tendência é que o consumo de produtos duráveis e de maior valor agregado cresça em 2023”, lembrou o presidente da FCDL-RS.

FORÇA ECONÔMICA

Neste ano, a economia do Estado teve o seu maior crescimento desde 2012, permitindo que a produção e a comercialização se expandissem. “O crescimento de 2022 seguiu a trajetória do ano passado, que estava condicionado à recuperação dos períodos de restrições impostas no combate à pandemia. Um fator que entendemos fundamental para isso, foi a redução do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços), o que beneficiou a atividade econômica, na medida em que os preços de combustíveis, energia e telecomunicações tiveram uma queda considerável. Isso mostra que deve ser incentivado o equilíbrio das contas públicas, especialmente com redução responsável de impostos”, enfatizou Gustavo Inácio de Moraes.

No que se refere ao ICMS, Vitor Koch voltou a reafirmar a posição firme e contrária da FCDL-RS a qualquer possibilidade de retomada de alíquotas maiores do imposto, como está sendo ventilado a partir de um possível acordo de Estados e União que permita alíquotas maiores de ICMS para gasolina e base maior para cálculo do imposto para energia. “De forma alguma somos favoráveis a elevação das alíquotas do ICMS. Precisamos de gestão pública responsável e que administre os recursos do Estado de maneira eficiente, sem apelar para a tradicional forma de aumentar impostos. A sociedade em geral não pode mais conviver com esse tipo de situação. Aumento de alíquotas de impostos diminui a renda das famílias e retrai o consumo”, ponderou o presidente da FCDL-RS.

CAUTELA PARA 2023

Projetando o próximo ano, a recomendação se resume em uma palavra: cautela. A pressão da inflação, o adiamento de uma queda da taxa de juros, o estado da economia internacional e as indefinições sobre o financiamento dos programas sociais criam esse cenário de estratégias de negócios cuidadosas e com ações mais defensivas para 2023. A perspectiva é que o crescimento econômico possa se desacelerar em 2023, no Brasil e no mundo. O nosso país, provavelmente, terá dificuldades para manter o ritmo apresentado em 2021 e 2022, apresentando um ambiente semelhante ao de 2019, quando teve crescimento econômico de apenas 1%. Finalmente, há uma expectativa de recessão nos países centrais que pode desacelerar a geração de renda na economia brasileira.

O Brasil ainda convive com a manutenção da pressão inflacionária, uma vez que as reduções apresentadas se concentraram em comunicações e transportes, demonstrando um comportamento superior a dois dígitos, na variação de 12 meses, nos segmentos de alimentação e bebidas e também de vestuário. “É importante que aconteça deflação nesses segmentos, que mexem de forma intensa com o orçamento do consumidor, afetando o planejamento das famílias e dos empreendedores do comércio”, lembrou Vitor Augusto Koch.

Para o professor Gustavo Inácio de Moraes não existem, ainda, sinais de que a inflação possa ceder de forma consistente no primeiro semestre do ano. Logo, o comércio gaúcho deveria se preparar para um cenário ainda com juros altos e comportamento inflacionário. Embora exista a necessidade da adoção de cautela, há, também, oportunidades interessantes em vários segmentos do comércio. Como ainda persiste o clima de indefinição nas dimensões da política monetária, em aspectos como juros e inflação, estratégias de antecipação da formação de estoques e o cuidado com a gestão de aprovação de crédito assumem papel central para um bom resultado dos lojistas.