EDITORIAL

Fim de semana trágico

A chegada do ciclone extratropical na sexta-feira prenunciava que o fim de semana seria de chuva intensa e ventos. Alertas foram dados pela Defesa Civil, mas sem prever que a intensidade do evento climático tomasse as proporções que chegou no sábado e domingo. O Litoral Norte foi atingindo com o furor de ventos, chuvas fortes e constantes e a elevação da maré com forte ressaca do mar. A madrugada de sábado foi aos poucos delineando o quadro de tragédia tendo seu ápice quando rios transbordaram e foram levando tudo que estava no caminho. Nem mesmo aquelas casas que supostamente estariam fora da área de risco deixaram de ser atingidas pelo volume abundante de chuvas que descia das encostas e escorriam pelos rios da região e serra. O caos foi instalado, milhares ficaram sem energia, água potável, casas destruídas e até totalmente cobertas pela água. Famílias inteiras desalojadas e milhares de pessoas no raio de incidência do ciclone viram em segundos todo seu esforço de uma vida ser levado, mas o pior foram as vidas ceifadas que já atingiram a marca de 13 pessoas, podendo chegar a 14 ou mais. Resgates de pessoas que passaram horas dentro d’água depois de serem carregadas pela correnteza num esforço enorme em nome da sobrevivência.

Municípios como Caraá e Maquiné sentiram as forças das águas de seus rios, mas outros municípios banhados por estes rios ou não também tiveram inundações e perdas significativas. O Litoral Norte sentiu a força da natureza como há muito não se tem notícia. Superou em muito o ocorrido em agosto do ano passado quando um fenômeno idêntico atingiu o sul de Santa Catarina e parte de Torres e municípios próximos. Já naquele episódio já se falava de que a região poderia ter fenômenos como aquele com mais frequência e atingindo a costa do Rio Grande do Sul. Algo que agora vimos se tratar de uma triste realidade.

Em meio a tudo isto também houve a perda do vice-prefeito Martim Tressoldi, que vinha travando uma batalha inglória contra esta doença terrível que é o câncer. Homem de fibra que se acostumou a enfrentar as dificuldades em prol daqueles que o tinham como um líder. Alguém que tinha um olhar humanizado e de resolutividade por quem lhe procurava em busca de auxílio. Abriu mão de seu posto militar para buscar eleitores e assim dar início a sua vida política, seguindo a trajetória traçada pelo pai. Assim passou a ser conhecido como o Tressoldi vereador e entre idas a vindas na câmara e candidaturas a vice-prefeito veio a ser eleito vice-prefeito nas eleições em meio a pandemia que assolava o mundo. Assumiu a secretaria de Obras e logo foi desenvolvendo um intenso trabalho de melhorias das ruas da cidade e bairros, inclusive dos balneários de Atlântida Sul e Mariápolis. Mas sua determinação foi afetada com a descoberta desta terrível doença tendo de se afastar da vida pública para cuidar da saúde. Para tristeza dos osorienses em meio aos acontecimentos climáticos que assolaram o fim de semana Tressoldi partiu para seu descanso eterno, deixando um legado de trabalho e dedicação pela sua cidade que tanto se dedicou.

No domingo houve a passagem da osoriense Clarice Luz, que há mais de 10 anos era presidente da 3ª Região do CRBio – Conselho Regional de Biologia. Estudante do Ginásio Industrial Abramo Eberle e depois do Colégio Conceição, trabalhou no ramo de laboratório com o Dr. Stein e Dª Rosa, sendo depois funcionária da Fundação de Endocrinologia e Fertilidade da UFRGS e depois por anos como chefe do departamento de Radioimunoensaio de PUC. Após aposentar-se abriu ser laboratório de Análises Clínicas LabVitrus e dogo em seguida foi integrar o Conselho Regional de Biologia que integrava os estados do Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Palestrou por dezenas de vezes em Universidade e eventos pelo Brasil depois de realizar Doutorado no Uruguai. Sua incansável luta pela categoria dos biólogos a fez enfrentar muitos desafios para ampliar a abrangência da profissão em mais áreas da saúde. Infelizmente em janeiro deste ano após completar um ano da perda do esposo, veio a descoberta de câncer e que veio a vitimar no último domingo. Uma grande perda para a família e certamente para os milhares de alunos e biólogos que atuam atualmente no mercado de trabalho. Uma representante osoriense que também levou o nome da cidade além e nossas fronteiras com seu trabalho e dedicação.

Assim como estes dois representantes da cidade fica o adeus para todos os que se foram na tragédia deste fim de semana, que marcou um triste momento para o Litoral Norte e uma boa parcela do estado.