CIDADESAÚDE

CAPS – Casa Aberta de Osório completa 30 anos de fundação

OSÓRIO – Na segunda-feira (24), o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) – Casa Aberta completou 30 anos de fundação. A prefeitura, por meio da Secretaria Municipal de Saúde, realizou uma live na noite da última quinta (20), para contar um pouco da história do CAPS na cidade. O bate-papo contou com a presença da ex-coordenadoras do CAPS Ângela Kunzler (2000-2004), Denize Amaral (2004-2019) e Vanda Demczuk (1992-1996), além da atual coordenadora, Mariluci Fofonka (desde 2020). A mediação ficou por conta da psicóloga Sandra Muttes.

Vinculado à Secretaria de Saúde, o CAPS Casa Aberta possibilita o atendimento integral aos usuários, propiciando assistência humanizada. A entidade oferece atendimento individual, grupal, além de oficinas terapêuticas que auxiliam no tratamento, recuperação e buscam a reinserção social. Mas afinal, como tudo começou?

HISTÓRIA DO CAPS

Primeiramente, foi criado, com apoio da comunidade, em 20 de julho de 1989, um Conselho Municipal de Entorpecentes (Comen). Segundo Vanda Demczuk, o processo foi “árduo”, mas necessário, visto que era uma ação para ajudar a comunidade. Os primeiros atendimentos ocorriam em uma sala da prefeitura, localizada, onde hoje é atual Biblioteca Municipal. Sendo um sucesso e com uma enorme demanda desde o início, o Comen acabou passando a ser procurado também por pacientes com problemas mentais, atendendo pessoas de todo o Litoral. Diante desta situação, por meio de um sonho, o trabalho que começou de maneira voluntária, chegou aos olhos do governo municipal e, após a realização de um curso, que contou com a participação de Denize, Sandra, Mariluci e Vanda, entre outras pessoas, surgiu o projeto Casa Aberta.

Conforme Denize Amaral, na época, com apoio do prefeito Ciro Simoni e da Secretária Municipal de Saúde Leda Simoni, o então Centro de Saúde Mental, saiu do papel, se tornando um dos pioneiros no cuidado com a saúde mental oferecido pela gestão pública. “A Casa Aberta não nasce espontaneamente. Ela nasce a partir de um movimento de trabalhadores que se capacitaram e que tinham sonhos”, ressaltou Ângela Kunzler.

Sem fazer o curso, foi a partir da realização de um concurso público para nomeação dos técnicos, que Ângela entrou na história. Com uma equipe formada por cinco funcionários, a Casa Aberta foi inaugurada em outubro de 1992, em uma residência localizada na Avenida Getúlio Vargas, na esquina com a Rua Vinte e Quatro de Maio. Até o ano de 2002, o Casa Aberta passou por vários endereços, até chegar aonde está. Atualmente o CAPS Casa Aberta está localizado Rua Barão do Rio Branco, 583, no Centro da cidade. “Já está na hora de termos um endereço nosso, uma sede própria, o que iria valorizar a seriedade do nosso trabalho”, declarou Ângela.

Conforme Ângela, foi em 2002, que, por meio de um projeto, o Casa Aberto passou a ser CAPS. Foi neste ano que o Ministério da Saúde, em substituição aos hospitais psiquiátricos, determinou a criação dos Centros de Atenção Psicossocial em todo o país. Os CAPS surgiram como um dispositivo antimanicomial, um modo de se trabalhar com os transtornos mentais graves a partir da Reforma Psiquiátrica (aprovada no RS nove anos antes), em espaços para o acolhimento de pacientes, em tratamento não-hospitalar.

NOVO CAPS

De acordo com o Ministério da Saúde, um CAPS pode atender até 50 mil habitantes, número abaixo do que Osório possui. Porém, devido ao trabalho incansável das servidoras municipais, surgiu em 2006, um projeto realizado por Ângela, juntamente com a psicóloga Catula Maia (que na época era estagiária), para a criação do CAPS II. Foi a partir daí que houve uma descentralização do serviço, havendo a presença de psicólogos em todas as Casas de Saúde, “fazendo saúde integralizada”, como pontou Denize. “É um trabalho de conscientização da própria população, dos gestores e de toda a Rede de Saúde, que não é só o CAPS trata dos problemas mentais”, ressaltou Amaral.

DESAFIOS DO CAPS

Na coordenação do CAPS desde janeiro de 2020, Mariluci Fofonka falou sobre a responsabilidade e os desafios do cargo, que foram ainda maiores durante a pandemia da Covid-19, onde foi, segundo ela, preciso se “reinventar”. Por se tratar de um serviço essencial, o Casa Aberta não fechou, sendo realizado os acompanhamentos dos pacientes com todos os cuidados necessários.

Passado o pior, agora as profissionais do CAPS lidam com os efeitos da pandemia. Conforme Fofonka, houve um aumento significativo nos casos de depressão, ansiedade, tentativas de suicídio, etc. Mariluci citou alguns exemplos que podem ter contribuído para isso: como a perda de um ente querido ou de um emprego, os alunos que tiveram que lidar com as aulas online, entre outros inúmeros fatores.

Durante a sua fala, a coordenadora do CAPS ressaltou o desafio de fazer com que a população veja a importância e valorize o trabalho da Casa Aberta, que sabe dos problemas da comunidade e realiza o serviço, segundo Mariluci, “sempre com amor e cuidado com a saúde mental”. “Temos a noção e a consciência que não podemos atender a tudo e todos. As críticas sempre veem e a gente acolhe. Mas o que eu posso dizer para vocês é que as pessoas que trabalham na Casa Aberta são comprometidas, responsáveis e se empenham bastante para sempre atender os pacientes com 100% das suas capacidades”, afirmou a coordenadora do CAPS.

Entretanto, Denize ressaltou que não se vive só de amor, também é preciso técnica e financiamento. Ela lembrou que, nos últimos anos, os recursos federais não foram reajustados, não havendo ampliação dos valores na área da saúde mental. “Isso é uma questão extremamente importante, que todos os cidadãos brasileiros e todos os osorienses tenham conhecimento para a gente siga nesta luta”, afirmou.

Hoje, a instituição conta com 30 profissionais nas duas unidades, sendo o CAPS II voltado para o atendimento adulto, como problemas de álcool e drogas; e o CAPS I voltado para atender as crianças e adolescentes, além dos transtornos crônicos. O atendimento dos dois centros ocorre de segunda a sexta-feira, das 8h às 18h, sem fechar ao meio-dia.

A psicóloga Sandra Muttes encerrou a live com um trecho do livro ‘As Sandálias do Pescador’ (1963), do escritor australiano Morris West: “Custa tanto ser plena que muitos poucos são aqueles que têm a luz ou a coragem de pagar o preço. É preciso abandonar por completo a busca da segurança e correr o risco de viver com os dois braços. É preciso abraçar o mundo como um amante. É preciso aceitar a dor como condição da existência. É preciso cortejar a dúvida e a escuridão como preço do conhecimento. É preciso ter uma vontade obstinada no conflito. Mas também, uma capacidade de aceitação total de cada consequência do viver e do morre”.

HOMENAGEM DA CÂMARA

Vereadores Ricardo e Ed, prefeito Roger, vereadores Charlon e Miguel, secretário Danjo e coordenadora do CAPS Mariluci compuseram a mesa durante a Sessão. – FOTO: Adriana Davoglio

Na noite de sexta-feira (21), foi realizada no Plenário Francisco Maineri, na Câmara de Vereadores, uma Sessão Solene para homenagear os 30 anos do CAPS em Osório.A entidade foi agraciada com uma placa comemorativa, proposta por meio do Requerimento 052/2022, de autoria do presidente do Legislativo, Charlon Muller (MDB). Inicialmente, foi mostrado um vídeo contando um pouco da trajetória do CAPS em Osório, o qual contou com pronunciamentos das ex e da atual coordenadora da Casa Aberta. Logo após, foi a vez das autoridades presentes falarem algumas palavras sobre a instituição.

O vereador Charlon falou de gratidão a instituição que tanto fez e faz na vida dos osorienses: “Está noite é de festa e de valorizar o trabalho da Casa Aberta, que realiza os serviços com acolhimento exemplar e de humano”, afirmou o presidente do Legislativo. O vereador Miguel Calderon (PP), reconheceu o trabalho do CAPS, ressaltando o quão preconceituoso é visto o tratamento pela saúde pública. “Nesses 30 anos o CAPS teve que lidar com o processo de transformação e luta até hoje com a derrubada de preconceitos”, afirmou o vice-presidente da Câmara.

Muito emocionado, o vereador Ed Moraes (MDB) lembrou do trabalho das ex-coordenadoras do CAPS, Vanda, Ângela e Denize, as quais foram fundamentais para a construção e o início dos trabalhos da Casa Aberta no município. Já o vereador Ricardo Bolzan (PDT) aproveitou para parabenizar e agradecer a todos que se dedicaram durante os 30 anos com um trabalho de zelo, carinho e amor, fazendo com o CAPS Casa Aberta se tornasse referência na região: “Salvar vidas, transformar pessoas que querem ser ouvidas, dar atenção e voz, esse é o trabalho do CAPS. Porque saúde mental é uma doença e deve ser tratada como tal”, declarou Bolzan.

O secretário de Saúde Danjo Renê falou da relação entre o CAPS e o SUS, que, segundo ele, trabalham juntos desde sua fundação. Danjo também falou sobre o diferencial do CAPS de Osório em relação aos demais: “A nossa Casa Aberta é aberta a todos, sendo um lugar de acolhimento, inclusão e com profissionais qualificados”. No final de sua fala, ele ainda fez um pedido ao prefeito Roger Caputi, também presente no evento. “Eu tenho um sonho de ter um CAPS nosso, pensado para os usuários de saúde do nosso município”, contou o secretário.

Em resposta a Danjo, Roger falou que já está em andamento e que em breve o sonho do secretário possa virar realidade: “Vamos cumprir esse compromisso com os funcionários. Ter uma casa projetada para atender essas pessoas, oportunizando a vida a todos que precisam desde serviço amparado pelo serviço público”, declarou o prefeito Caputi. Após as falas, o presidente da Casa, Charlon Muller, juntamente com os demais vereadores presentes, entregou a placa a atual coordenadora do CAPS, Mariluci Fofonka.

Vereador Charlon entregou a placa a Mariluci
Fofonka. – FOTO: Adriana Davoglio

Na sequência, a homenageada, falou algumas palavras as cerca de 80 pessoas que acompanharam a Sessão Solene. Entre os presentes também estavam os vereadores João Pereira (MDB), Luis Carlos Coelhão (PDT) e Vágner Gonçalves (PDT); a primeira-dama Carine Azeredo; o secretário municipal de Segurança e Trânsito Moacir Galimberti; o ex-vice-prefeito municipal Eduardo Renda; o comandante do Comando Regional de Policiamento Ostensivo do Litoral Norte (CRPO Litoral), o coronel Sérgio Gonçalves dos Santos; o comandante do 8º Batalhão de Polícia Militar (BPM), o major Luiz César Lima dos Santos; o representante da Escola de Formação e Especialização de Soldados (Esfes) de Osório, o tenente Ricardo Alexandre Gomes Jr, entre outras autoridades, além de servidores e funcionários do CAPS.

Também muito emocionada, Mariluci ressaltou a importância do CAPS e os desafios que precisam lidar no dia a dia. “Saúde mental não se faz só no CAPS, mas sim em todos os serviços de saúde. Então, é importante que os gestores privilegiam investimentos para essa área. Porque nada se faz sozinho e temos muito que avançar, ultrapassar as barreiras do preconceito com o tratamento mental”, afirmou a coordenadora do Casa Aberta, que concluiu: “Essa jovem de 30 anos (Casa Aberta) tem tratado a todos que precisam, com carinho e amor porque aqui somos todos loucos um para os outros”, finalizou Mariluci.

Após a sua fala, Mariluci entregou voto de congratulações e flores as três ex-coordenadoras do CAPS Casa Aberta de Osório: Ângela Kunzler, Denize Amaral e Vanda Demczuk. No final da Sessão, a coordenadora do CAPS convidou a todos para um coquetel, que foi realizado no CTG Estância da Serra.

Homenageadas Mariluci, Vanda, Ângela e Denize.