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Indígenas denunciam abuso de agentes da PRF

Lideranças Mbya Guarani denunciam abuso de poder, constrangimento ilegal, intimidação e preconceito contra uma mulher indígena. O crime teria sido realizado por agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF), do posto policial localizado na BR-101, em Osório.

Conforme as lideranças indígenas, na tarde do último dia 20 de julho, Clarice Mbya Guarani da comunidade indígena de Barra do Ouro se dirigia de Uber para a Comunidade Sol Nascente, na mesma localidade, quando, após abordagem ao motorista da empresa de transporte privado, de quem usufruía os serviços, foi constrangida e agredida por policiais rodoviários.

De acordo com o relato do motorista, que preferiu não ser identificado por segurança, ele foi abordado para mostrar a Carteira Nacional de Habilitação, documento do veículo e, ainda, obrigado a abrir porta-malas para averiguações. Não satisfeitos, os agentes passaram a interrogar a indígena de forma autoritária e também recolheram os documentos para averiguações.

Percebendo se tratar de uma mulher indígena, queriam saber para onde estavam se deslocando, chegando a inquirir o motorista sobre o que ele pretendia com a Clarice Mbya Guarani. O motorista explicou que foi contratado para leva-la a uma outra comunidade indígena, também em Osório. “Um dos três policiais, o mais exaltado, retrucou de forma rude que em Osório não havia nenhuma comunidade indígena”, contou o motorista.

Na sequência, esse mesmo policial se dirigiu a Clarice, de forma descontrolada, querendo saber dela para onde iria e o que iria fazer. Clarice tem como língua mãe o Guarani e, por isso, sente dificuldade de falar português, além do que, se encontrava muito nervosa e com medo diante da brutalidade daquela abordagem.

Conforme relato do motorista, chegou um dado momento que a indígena mal conseguia responder as tantas perguntas. Ele contou que o policial que a interrogava queria obriga-la a falar somente em português, chegando a dizer que ela era obrigada a saber falar português, porque ele (policial) não tem a obrigação de saber Guarani. Esse policial proferia palavras ofensivas e de baixo calão a indígena. “Clarice estava quase em pânico e não conseguia mais falar, a situação ficou muito tensa, chegando a constranger os outros dois policiais”, relatou o motorista.

Depois de muitos palavrões, intimidação, constrangimento ilegal, abuso de poder e as mais variadas formas e expressões de preconceito contra a indígena, os policiais decidiram liberar o veículo, mas não sem deixar de proferir impropérios, chegando a afirmar que não queriam mais vê-los pela rodovia.

Por meio de áudio enviado pelo aplicativo de trocas de mensagens Whatsapp, o motorista do aplicativo informou o fato às lideranças indígenas da Comunidade Barra do Ouro, que denunciaram a violência às entidades indigenistas e instituições públicas que prestam assistência às comunidades na região.

Conforme o Conselho indigenista Missionário (Cimi) Regional Sul, que acompanha o caso, os fatos narrados são graves, precisam ser adequadamente investigados pelo Ministério Público Federal (MPF) e acionado o comando da PRF para que se identifique os policias e que estes sejam responsabilizados civil e também criminalmente, pois fatos como esses não podem ser admitidos e tolerados.

“Nunca é demais lembrar que, recentemente, policiais rodoviários federais abordaram um homem em Aracaju (SE) e o constrangeram, espancaram, torturaram e o mataram no porta-malas da viatura transformada, por eles, numa espécie câmara de gás”, lembra o Regional. Os indígenas cobram providencias das autoridades e exigem um “basta de racismo, basta de violência, basta de truculência, de ameaças e de constrangimento policial. Eles não estão acima da lei, eles devem respeita-la”, afirma o Cimi.

Vale ressaltar que a nossa equipe tentou entrar em contato com a Polícia Rodoviária Federal e o Ministério Público, mas não recebeu retorno até o final desta edição (às 19h de quinta-feira, 04/08).

Foto: Apib