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Supostas lideranças do tráfico ameaçam comerciantes e exigem dinheiro

Ao abrir a loja na manhã de um sábado, há cerca de duas semanas, duas funcionárias ficaram em choque com uma mensagem recebida no Whatsapp do estabelecimento, localizado no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre. No áudio, um homem se identifica como líder de uma facção criminosa que atua na Capital e afirma ter descoberto que o responsável pelo comércio estaria repassando informações sobre o tráfico de drogas na região para a polícia. Com medo, as atendentes correram para trancar a porta e ligaram para a chefia, aos prantos.

Na ameaça, o criminoso afirma ser uma “das primeiras vozes” da facção e cobra explicações dos lojistas do por que estariam denunciando o tráfico. Caso a vítima se negue a dar esclarecimentos, a ordem é para “execução de todos” e para “colocar fogo” no local. Em um dos áudios, um criminoso chega a dizer o nome da loja. Ao perceberem que se tratava de um golpe, os funcionários bloquearam o contato, mas outras duas mensagens chegaram no dia seguinte, com as mesmas ameaças. Os comerciantes registraram um boletim de ocorrência por ameaça junto a polícia.

A investigação é conduzida pelo delegado Ajaribe Rocha Pinto, da 10ª DP, que atende o bairro. Segundo ele, outros relatos do tipo chegaram ao conhecimento da delegacia. Segundo o delegado, algumas ameaças foram feitas também por ligações telefônicas. A orientação, segundo Ajaribe, é que as pessoas registem boletim na polícia e não repassem dinheiro aos criminosos.

Em geral, as vítimas são comerciantes. A categoria se torna um alvo mais fácil aos criminosos porque, em uma breve pesquisa na internet, é possível obter informações sobre os estabelecimentos, como telefone e endereço, rapidamente. Casos do tipo também foram registrados, nas últimas semanas, em outras cidades do Estado, como em Osório.

Alguns relatos começaram a chegar até as equipes neste mês, segundo o delegado João Henrique Gomes de Almeida. “É tudo muito recente, mas o que se percebe dos casos que vimos aqui é que são áudios de pessoas com sotaque de outras cidades, usando números que recém foram cadastrados, gente que não tem muitos detalhes sobre as vítimas. Parece mais com uma forma de intimidação sem qualquer fundamento, uma maneira genérica de se conseguir valor”, declarou Gomes.

Sotaque de fora

Das características do áudio a Polícia chama atenção para o sotaque do criminoso, de fora do RS, possivelmente do nordeste do país. Para o diretor da Divisão de Homicídios da Capital, delegado Eibert Moreira, esse é o primeiro indicativo de que se trate de um golpe. Eibert foi um dos nomes à frente do trabalho que sufocou a guerra de facções em Porto Alegre e investiga atuação e ações de grupos criminosos na Capital. Outro indício de golpe é que, em geral, membros de grupos criminosos não se denominam como integrantes de “facções”, afirma Eibert. Em geral, se intitulam “irmãos”.

Apesar do aumento de registros do tipo nas últimas semanas, Eibert afirma que teve conhecimento de um caso semelhante em 2019. O delegado alerta: “quem receber a ameaça, deve procurar a polícia, registrar boletim e não fazer nenhuma transferência de valores. Depois, a vítima deve denunciar e bloquear o contato”, afirmou. Os registros podem ser feitos em delegacias ou pela internet. A vítima deve reunir todas as informações sobre o caso, como imagens das conversas por mensagens, áudios e contato do celular do criminoso, para ajudar na investigação. Orientações junto a Polícia Civil também pode ser fornecidas pelo telefone 197.