Whatsapp do Brasil lidera desinformação sobre a Covid entre as plataformas digitais
Uma pesquisa do Instituto Reuters para Estudos do Jornalismo da Universidade de Oxford nos Estados Unidos identificou o Whatsapp do Brasil como a plataforma digital onde a maior parcela da população local viu desinformação sobre a Covid-19. O estudo avaliou a percepção do público sobre as fontes de informação a respeito do novo coronavírus em oito países.
Além do Brasil, a pesquisa foi realizada na Alemanha, Argentina, Coreia do Sul, Espanha, Estados Unidos, Japão e Reino Unido, no último mês de abril. No total, foram ouvidas quase 11 mil pessoas para entender como se informaram ou foram vítimas de desinformação ligada à Covid-19 ao fim de um ano de pandemia, comparando redes de relacionamento (como Facebook, Twitter e Instagram), sites de vídeo (como Youtube) e mecanismos de busca (como Google).
No Brasil, 40% dos entrevistados declararam ter encontrado fake news sobre a doença no aplicativo de mensagens na semana anterior à da realização da pesquisa. O segundo maior índice foi do Youtube da Coreia do Sul, com 38%. O fato mais preocupante é que o estudo demonstra também que as pessoas que utilizam os aplicativos de mensagens para se informar sobre a pandemia são as mais propensas a acreditar nos mitos falsos sobre a doença e as vacinas, em comparação com os que utilizaram outras fontes.
Em contrapartida, a pesquisa mostrou que o uso de veículos de imprensa como fonte sobre o tema faz cair a taxa de pessoas que acreditam na desinformação da vacina em todos os países pesquisados. Dentre as pessoas dos oito países examinados, os brasileiros foram os que mais utilizaram as plataformas digitais para se informar sobre a doença e, portanto, segundo as conclusões do estudo, ficaram mais expostos à desinformação ligada ao vírus.
Redes sociais lideram desinformação na maioria dos países
O único dos oito países pesquisados onde os aplicativos de mensagens lideram isoladamente como principal fonte de desinformação sobre a doença é o Brasil. Na Argentina, eles aparecem empatados com as redes sociais. Em outros cinco países elas aparecem como as principais. Na Coreia do Sul, os sites de vídeo são os mais associados à desinformação sobre Covid.
No geral, o estudo aponta as redes sociais (praticamente Facebook, Instagram e Twitter) como as maiores disseminadoras da desinformação sobre as vacinas, com percentual médio de 30%. Os brasileiros tiveram o maior índice (37%) entre os que viram desinformação ligada à doença nas redes sociais, empatados com os coreanos.
Os aplicativos de mensagens (como o Whatsapp) aparecem em segundo lugar, com média de 26%, seguidos pelos sites de vídeo (como o Youtube), com média de 23%. O percentual de brasileiros que viu desinformação referente à pandemia pelos sites de vídeo foi o segundo maior da pesquisa, perdendo apenas para os coreanos.
No Brasil, um em cada quatro brasileiros afirmaram ter sido vítima de desinformação ligada à Covid, por meio do Whatsapp. Já 41%, veem os políticos como as maiores fontes de desinformação sobre o vírus.
Comparação com as organizações de notícias
No comparativo entre veículos de imprensa e as plataformas digitais, a parcela que viu desinformação sobre a Covid nos veículos superou o maior índice das plataformas locais somente em três países: na Espanha, no Japão e na Argentina. O índice de brasileiros que diz ter visto desinformação ligada à Covid na imprensa ficou próximo da média (25%) verificada nos oito países. Os que viram mais desinformação nos veículos de comunicação na semana anterior à pesquisa foram os argentinos, espanhóis e norte-americanos. Segundo os pesquisadores, esse índice aumenta proporcionalmente à parcela de pessoas identificadas politicamente à direita de cada país.
No Brasil, a desinformação sobre a doença vista nas organizações de notícias foi muito menor do que a vista nas redes sociais e nos aplicativos de mensagens e foi equivalente à dos sites de vídeo. Como em todos os países, a desinformação sobre a doença percebida na imprensa foi maior do que nos mecanismos de busca.
Brasileiros foram os que mais usaram as plataformas digitais para se informar sobre a Covid
Dentre os oito países pesquisados, os brasileiros foram os que mais utilizaram as plataformas digitais para se informar sobre a doença. As plataformas mais utilizadas por eles com essa finalidade foram o Google (54%), Youtube (45%), Facebook (44%), Whatsapp (41%) e Instagram (39%). Esses índices são os maiores de todas elas na comparação com o uso dos outros países, à exceção do Youtube, que é dois pontos menor do que na Coreia do Sul.
A diferença de uso para se informar sobre a Covid é tão expressiva a ponto de as parcelas de brasileiros que usam o Facebook, o Whatsapp e o Instagram ser quatro vezes maior do que os percentuais de usuários dessas mesmas redes no Japão, no Reino Unido e na Alemanha, respectivamente.
Google foi a plataforma mais usada para informação sobre Covid
O Brasil foi também o país que mais usou o Google para se informar sobre o vírus, com mais da metade de sua população acessando a rede com essa finalidade. Provavelmente em virtude de terem sido percebidos como os menos associados à desinformação, os mecanismos de busca foram as plataformas mais utilizadas na hora de buscar informações sobre a Covid em sete dos oito países pesquisados (nos Estados Unidos, empatado com o Facebook). O Google só não aparece na liderança na busca de informações sobre a Covid na Coreia do Sul, onde o mecanismo de busca padrão é o Naver, que foi usado para essa finalidade por 67% da população local.
Comparação com os veículos de notícias
Provavelmente por ser o país onde mais se usou as plataformas digitais para a busca de informações sobre a Covid, o Brasil é o único onde o uso de veículos de imprensa para essa finalidade foi menor do que o maior índice de uso da principal plataforma para se informar sobre a doença. O Brasil também foi o único país onde o índice de uso das organizações de notícias para a busca de informações sobre a Covid foi menor do que o de cada uma das cinco principais plataformas digitais utilizadas para essa finalidade.
Em todos os demais países ocorreu o inverso: o índice de uso das organizações de notícias para se informar sobre o vírus foi maior do que o de cada uma das cinco principais plataformas digitais. Quando se compara o uso das organizações de notícias contra o de todas as cinco principais plataformas digitais combinadas para a busca de informações da Covid, o Brasil não fica sozinho e ganha a companhia de Estados Unidos, Alemanha e Coreia do Sul. Nos quatro países, o uso das organizações de notícias como fonte de informação da Covid foi menor do que o de todas as cinco principais plataformas combinadas.
Maior uso das plataformas digitais não se deve à maior confiança
O maior uso das plataformas digitais no Brasil em relação às imprensa tradicional na hora de se informar sobre a Covid não se deve à sua confiabilidade. Quando se compara o grau da confiança da população em cada uma das fontes de notícias, os veículos jornalísticos ficam bem acima das redes sociais, sites de vídeo e aplicativos de mensagens. Elas só perdem para os mecanismos de busca, assim como acontece na Argentina.
Os brasileiros depositam a menor confiança como fonte de informação sobre o vírus nos aplicativos de mensagens, que no Brasil traduz-se principalmente pelo WhatsApp. Menos de um terço da população (30%) confia nas notícias sobre Covid obtidas por meio dele.
Para os brasileiros, a segunda plataforma menos confiável para encontrar informações sobre a Covid são as redes sociais (36%) como Facebook, Instagram e Twitter, seguidas pelos sites de vídeo como o Youtube (42%).
O índice de confiança dos brasileiros na imprensa é o segundo maior entre os oito países pesquisados, empatados com os alemães e atrás dos coreanos. Porém, o Brasil é um dos dois países onde o índice de confiança nos meios de comunicação tradicionais como fonte de informação sobre a Covid não é maior do que o de cada uma das cinco principais plataformas digitais. Mas isso acontece por causa do alto grau de confiança depositado pelos brasileiros nas informações sobre o vírus, obtida pelos mecanismos de busca (leia-se Google), que é o maior entre os oito países pesquisados. O índice de confiança das organizações de notícias dos demais países analisados também ficaria abaixo dele, à exceção da Coreia do Sul.
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