EDITORIAL

Tráfico e o poder

A indústria do tráfico de drogas certamente é a maior multinacional existente no mundo e que trabalha de forma totalmente discreta e infiltrada em todos os ramos da sociedade. O poder econômico gerado pelo comércio de entorpecentes assusta a sociedade que por muitas vezes se vê barões do ramo ilegal saírem mais rápido da cadeia do que um cidadão que furtou uma galinha no quintal do vizinho.

Os cartéis são variados e de muitas nacionalidades que se integram numa atividade ilícita e predatória para o mundo atual. Já não nos surpreendemos mais com jovens nas esquinas ou na porta das escolas (para não dizer dentro das mesmas) fumando maconha ou cheirando o tal do “raio”. O crack que foi e continua sendo um grande mal ficou restrito aos mais pobres, enquanto os ricos estão a bancar a cocaína, LSD, e tantas outras drogas produzidas em laboratório. Uma produção crescente de drogas artificiais estão a concorrer no mercado com as drogas de origem vegetal (maconha, haxixe, cocaína entre outras). Para o traficante a questão está no lucro fácil e no poder neste meio criminoso de vida.

Diariamente centenas de quilos de drogas da mais diversas são apreendidas pela polícia, mas se imagina que somente 10% do que passa pelo Brasil é realmente retirada do mercado. As facções do tráfico conseguem por diversos meios corromper a segurança e os órgãos repressores par continuar a usar o Brasil como meio para levar este mal do século para todo o mundo.

O tráfico tem cooptado pessoas influentes em todos os meios da sociedade, havendo eleitos pelo povo envolvidos e até mesmo órgãos policiais e ex-policiais que formam milícias para impor as regras do tráfico e da “segurança” que oferecem. Enquanto isto nossas autoridades estão a discutir o “sexo dos anjos” e manter um corrupto no cargo mais alto da nação, deixando o povo sem segurança e sem condições de ter uma vida digna.

As recentes apreensões de drogas no Rio Grande do Sul que superam mais de duas toneladas de maconha demonstram o poder organizacional que exemplarmente deve ser desarticulado. Que a Polícia Federal deixe de ser a matilha do STF que pode ser atiçada contra cidadãos por emitirem opiniões e críticas e elementos dos poderes constituídos.

É lamentável e também duvidosa a atitude de um ministro do STF de impedir ações da polícia em morros cariocas deixando-se evoluir o poder do tráfico e das milícias que se armam melhor contra a força policial. Ver uma emissora de televisão exaltar a morte de um meliante em detrimento da função do policial, bem como dar guarida a “balas perdidas” de policiais quando o tráfico é ameaçado de prisão. Não vemos a mesma combatividade por parte do STF e do Governo Federal para combate esta mazela que está contaminando a juventude de um país e destruindo suas estruturas. Inclusive até mesmo a ponto de exaltar um roubo de celular com a justificativa de ser para o pobre do meliante ter como tomar uma cervejinha.

O poder construído pelo cartel de Medelin, onde Pablo Escobar era o policial, o promotor, juiz e executor de cidadãos que eram contrários à sua megalomania e grandeza pelo bilhões de dólares que obtinha com o tráfico. Enquanto aqui no Brasil temos o Marcola, maior narcotraficante do país obtendo vantagens estando preso para deixar o isolamento da segurança máxima em Rondônia para ir para Brasília, o centro do poder do país. Seria esta transferência um acordo para cessar incêndios e rebeliões em presídios no Ceará e Rio de Janeiro?

Infelizmente as penitenciárias viraram centrais de golpes financeiros, de cooptação de dinheiro, de julgamento de quem vive ou morre no tráfico e centrais de telemarketing do tráfico. As penitenciárias não possuem bloqueios de sinais de celular, nem equipamento para detectar ligações de dentro do presídio para comandar as quadrilhas. No entanto, no Congresso há um equipamento que pode rackear celulares e até mesmo bloquear sinal de telefonia para proteção dos parlamentares.

Será que há interesse em realmente debelar o tráfico de drogas na Brasil ou este “livre comércio” tem muitos elementos infiltrados para determinar a vontade do tráfico a base de muita propina. Infelizmente a praça dos três poderes é uma caixa preta para os três pontos que alicerçam a democracia.