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Palometas podem chegar à Bacia do Rio Tramandaí

Após ter sido encontrada em diversos pontos do RS, a distribuição e instalação das palometas (Serrasalmus maculatus) nas bacias hidrográficas do Estado já é considerada uma realidade por autoridades e pesquisadores. A espécie, que é oriunda da bacia do Rio Uruguai, já foi encontrada em regiões da Bacia do Jacuí, além do Guaíba e Lagoa dos Patos.

Os pesquisadores afirmam que o animal segue avançando e poderá chegar a Bacia do Rio Tramandaí. A principal causa apontada por especialistas para a migração das palometas da bacia do Rio Uruguai para outras regiões é a drenagem em canais de irrigação de lavouras que retiram a água de uma bacia e desaguam em outra. A partir disso, não há barreiras naturais que impeçam a proliferação por rios e lagoas, proporcionando que o peixe chegue até o Litoral Norte gaúcho.

Caso isso se confirme, o cenário seria preocupante, visto que a palometa não é um peixe nativo dessas áreas, e sua presença poderia causar um desequilíbrio ambiental e interferir também na economia de locais que dependem desse equilíbrio. O professor e pesquisador do departamento de Ictiologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) explica como isso pode ocorrer.

“A introdução acontece, provavelmente, por bombas de irrigação na parte central do Estado. Logo, ela estará em todo o sistema hidrográfico gaúcho, como nos rios Camaquã, Piratini, Jaguarão, etc., e na Lagoa Mirim. Talvez ainda passem para as lagoas costeiras do sistema do Rio Tramandaí”, indica Luiz Malabarba. Para o pesquisador, é urgente a necessidade de evitar a transposição da palometa, que já está na Lagoa dos Patos, para as lagoas costeiras da Bacia do Rio Tramandaí. Esse “transporte” da piranha poderia acontecer pela conexão artificial entre a Lagoa do Casamento (Bacia da Lagoa dos Patos) e a Lagoa Fortaleza (Bacia do Rio Tramandaí), por meio de canais de irrigação.

“Se você viajar pela RS-040, vai constatar o início do plantio e brotação do arroz. Quando houver o bombeamento de água para estes canais e o esvaziamento dos campos de arroz, de uma bacia para a outra, corremos o risco de estar fazendo a introdução da palometa no Litoral Norte”, afirma o professor. Em uma visão mais a longo prazo, ainda há risco de consequências mais graves. Segundo Malabarba, há possibilidade de extinção total ou regional de uma espécie:

“Mesmo que daqui a algum tempo a população da espécie invasora atinja um equilíbrio, outras já existentes podem se extinguir ou desaparecer regionalmente durante este processo. Ou então uma espécie que era abundante antes da invasão pode diminuir sua população e tornar impraticável a sua captura para o uso comercial ou para consumo”, afirmou o pesquisador da UFRGS.

A Secretaria Estadual de Agricultura, Pecuária e Desenvolvimento Rural (Seapdr) informou, em nota, que está articulada com outras entidades, entre elas, o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais (Ibama) e a Emater.  O objetivo do grupo é ter uma coordenação multidisciplinar em que cada órgão, dentro de suas competências, está trabalhando para a adoção de medidas que amenizem o problema.

A secretaria afirma que atua, junto da Emater, nas discussões e apoio aos pescadores, com acompanhamento dos casos e suporte técnico em cada município afetado.

SOLUÇÕES E PREVENÇÕES

Apesar de ainda não haver uma estimativa de até onde a presença exótica das palometas poderá interferir nas bacias hidrográficas, pesquisadores gaúchos já trabalham em hipóteses de soluções a curto e longo prazo, além de ações preventivas.

O professor Alexandre Garcia, do Núcleo de Oceanografia Biológica da Universidade Federal do Rio Grande (Furg), aponta dois tópicos envolvendo outros peixes nativos como barreiras naturais, seja por meio de competição ou de predadores. No primeiro caso, seria fomentar a presença de espécies que disputem espaço com a palometa, como a traíra. Já a segunda ideia seria a instalação de predadores, como o peixe-dourado, para consumirem as piranhas. O entrave, no entanto, está na pesca predatória, que diminuiu muito a população desses peixes atualmente.

Uma terceira alternativa seria trabalhar alterações da espécie em laboratório, segundo o professor. Filhotes da palometa poderiam ser esterilizados e introduzidos nas bacias. Contudo, seria uma alternativa mais tecnológica, custosa e demorada. Apesar de não ser muito procurado dos supermercados no RS, a palometa pode ser consumida como alimento. A partir disso, a pesca comercial da piranha também poderia ser uma saída para diminuir a população do peixe. “Na Amazônia, por exemplo, piranhas podem ser encontradas em mercados nas cidades do Interior, mas é de baixo valor. Mesmo assim, qualquer pesca dela seria bem-vinda”, avalia Roberto Reis, professor da Escola de Ciências da Saúde e da Vida da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).

Foto: Divulgação