Caminhoneiros do Litoral são alvos de sequestros

Um esquema criminoso que busca atrair caminhoneiros para roubar os veículos foi parcialmente desarticulado pela Polícia Civil de Santa Catarina. Na ação, caminhoneiros eram sequestrados, dopados e mantidos em cativeiros, enquanto os veículos eram levados para fora do país. Cinco homens suspeitos de envolvimento nos ataques, realizados no RS e em SC, foram presos no Estado catarinense na noite da última sexta-feira (27). A investigação segue em andamento e busca identificar mais pessoas responsáveis pela ação.
Segundo a polícia, foram pelo menos 12 sequestros realizados desde o final de março no Rio Grande do Sul e Santa Catarina contra caminhoneiros de diversos Estados, incluindo dois no Litoral Norte gaúcho (ambos em Tramandaí), no último dia 17/03. No esquema, os criminosos faziam anúncios falsos em aplicativos de fretamento, em nome de empresas conhecidas do ramo. Oferecendo um bom pagamento, a quadrilha atraía caminhoneiros para realizarem os fretes. Quando os trabalhadores chegavam ao local combinado, eram rendidos. Enquanto os caminhões eram roubados e levados para a região de fronteira com o Paraguai, os motoristas eram mantidos em cativeiro por até três dias.
Durante o sequestro, os caminhoneiros eram obrigados a responder mensagens de familiares, dizendo que estavam bem, para não levantar suspeitas. Os trabalhadores também eram forçados a ingerir drogas para permanecerem dopados, para evitar fugas e reações. Depois, eram deixados em locais afastados.
De acordo com o delegado Diego Gonçalves de Azevedo, titular da delegacia de Furtos e Roubos de Veículos da Diretoria Estadual de Investigações Criminais da Polícia Civil (Deic) de SC, a quadrilha tinha uma ação “bastante organizada”. “Os criminosos recebiam a vítima com crachás, com documentação, como se fosse da empresa em questão. Quando o caminhoneiro entrava no veículo da suposta empresa, anunciavam o sequestro e começavam as ameaças. As vítimas relatam extremo terror. Eram amarradas, precisavam colocar capuz e eram constantemente ameaçadas. Algumas delas são idosas, com anos de estrada, que foram muito aterrorizadas”, conta Azevedo.
Conforme o delegado, o veículo de menor valor levado pelos criminosos custava cerca de R$ 200 mil. Segundo a investigação, os assaltantes vendiam os caminhões a outra quadrilha, que adulterava os veículos para que fossem usados, depois, para contrabando de produtos falsificados. “É um tipo de crime que é mais frequente em locais como São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Não é comum na Região Sul, mas nos últimos meses tivemos alguns registros e passamos a investigar”, explica Azevedo.
Prisões em Santa Catarina
Ao longo das investigações, a polícia identificou os autores dos crimes e localizou quatro deles em uma pousada em Itapema, em Santa Catarina. O grupo foi preso em flagrante. No local, foi encontrando um revólver, que era usado para render as vítimas. Um quinto homem foi detido, também em uma pousada, na praia de Canasvieiras, em Florianópolis, na sexta-feira (27/05). Os nomes dos suspeitos não foram divulgados. Em depoimento, segundo a polícia, eles admitiram os 12 casos. No total, conforme a investigação, o grupo é responsável por ao menos 30 roubos e sequestros realizados no país desde o final do ano passado.
Os presos têm entre 24 e 34 anos de idade e são do Mato Grosso do Sul (MS). Eles foram presos em flagrante por crimes de sequestro, roubo, porte ilegal de arma, organização criminosa e por expor a vida dos reféns a perigo, por conta das drogas que obrigavam os caminhoneiros a ingerir. O trabalho foi desenvolvido pela Divisão de Investigação Criminal de Joinville e pelas delegacias de Furtos e Roubos de Veículos e de Roubos e Antissequestro do Deic de Santa Catarina. A ação teve o apoio da Polícia Rodoviária Federal (PRF).
O delegado Diego Azevedo orienta que caminhoneiros fiquem atentos a anúncios de fretes que oferecem pagamentos muito atrativos. Também é possível ligar para a empresa para verificar se o anúncio é verdadeiro: “os criminosos costumam utilizar nomes de empresas conhecidas. Outra dica é ficar em contato com algum familiar ou conhecido quando for pegar a carga. Se você for vítima ou souber de alguém que é mantido como refém, procure imediatamente a delegacia de polícia mais próxima”.
Foto: PC